Economia

Mr. Trump e o Brasil

Por Carlos Magno Lopes*

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação

O Brasil não é e, ao que parece, tampouco será um parceiro estratégico, do ponto de vista da política externa americana. Ao contrário do que alguns pensam, ser invisível, no contexto atual, traz conforto, pois significa que Trump não poderá rever tratados relevantes e especiais com o Brasil, simplesmente porque não existem. Por outro lado, a opção de Trump pelo protecionismo enterra de vez as tratativas incipientes para o estabelecimento de acordo de livre-comércio feitas pelo governo brasileiro. Nesse quesito, México, em especial, Peru, Colômbia e Chile poderão ser duramente atingidos, uma vez que já possuem acordos de livre-comércio com os Estados Unidos. É verdade, contudo, que a importação de produtos brasileiros que concorrem com os americanos poderá ser sobretaxada, mas é difícil avaliar com qual intensidade.

No âmbito da política macroeconômica é possível antever alguns desdobramentos das mudanças anunciadas na economia americana, como investimentos em infraestrutura estimados em mais de 100 bilhões de dólares anuais, através de gastos do governo, o que tende a aumentar a inflação, da mesma forma que o aumento da alíquota média de importação, resultante do protecionismo. Ao FED não restará outra alternativa a não ser elevar a taxa de juros, ao mesmo tempo que os investidores internacionais passarão a se desfazer de suas posições em países emergentes, como o Brasil, que poderá experimentar acentuada depreciação cambial. Perguntará o aliviado leitor: “Quer dizer que o Brasil não terá problemas com Trump?”. Isso só aconteceria se o Brasil fosse uma tribo indígena isolada da civilização. Na realidade, as consequências da política de desglobalização de Trump ainda não podem ser melhor avaliadas, pois ainda não há certeza de que será mantida como formulada, após a posse e, se o for, como será, de fato, executada. Enquanto isso, o mundo permanece em vigília.

* Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE

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