Economia

Multas e mais multas

Por André Matos Magalhães (*)

André Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação

O problema não é tão simples sim. Podemos pensar no sistema de multas de trânsito como outras situações nas quais o objetivo é levar as pessoas a seguirem determinados comportamentos. Por exemplo, evitar que as pessoas soneguem impostos ou evitar que os alunos colem numa prova. Apesar de se tratarem se situações distintas o objetivo é o mesmo: o indivíduo deve ser levado a evitar um comportamento não desejado pela sociedade.

Economistas tratam situações como essa através da ideia do “custo esperado” decorrente de cometer o ato. Esse custo esperado está diretamente relacionado a dois fatores: a probabilidade de ser pego (percepção das pessoas) e a multa a se pagar. Quando maior a probabilidade de ser pego, maior o custo, e, claro, dada uma probabilidade de ser pego, quanto maior a multa, maior o custo total. Existiriam, então, dois caminhos: aumentar a penalidade ou aumentar a fiscalização (ou combinar um pouco das duas coisas).

Órgãos como a Receita Federal usam estratégias inteligentes de realizar ações que aumentam a percepção da sociedade de que a probabilidade ser pego é alta (auditorias em grupos especiais e de grande visibilidade funcionam bem para isso. Mesmo que poucos sejam pegos, o efeito “medo” tende a ser alto). O caminho trânsito parecer ser outro: aumentar expressivamente o valor da multa. O problema dessa estratégia começa a ser tornar claro quando se percebe que os aumentos nos valores das multas têm sido recorrentes. Isso indica que a estratégia usada não tem surtido o efeito desejado e mais aumentos são necessários.  

Há claramente um limite para isso. Dada a renda média da população, e os valores dos carros, estamos chegando num ponto no qual, ao ser pego, o motorista vai entregar o carro como pagamento. Talvez esse seja objetivo, não sei. Ou talvez seja arrecadar mais dinheiro para o estado. Quem sabe?

Aumentar as multas é mais barato (pouco esforço e maior arrecadação). Mas, o fato é que o caminho escolhido não está funcionando. Arrisco a dizer que o motivo é simples: a percepção é que chance de ser pego é baixa. Precisamos parar de aumentar as multas e buscar caminhos mais eficientes. E mais, precisamos estudar os reais impactos das medidas. Há pouca coisa, ou nada, realmente sendo feita sobre isso. Sem isso, em breve, teremos multas de 50 mil reais para quem esquecer de ligar o farol durante o dia, dentro da cidade!

 

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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