Economia

Mercado para intolerantes (à lactose)

(*) Por André Matos Magalhães

André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP

Eu descobri isso da forma difícil. Quando os sintomas começam a aparecer é difícil associar com o leite e seus derivados. Quando o problema é finalmente diagnosticado fica muito óbvia a associação: comeu algo com leite ou derivado, passa mal. Há estimativas de que até 40% da população brasileira tenha essa condição. Muitos ainda não têm o diagnóstico, mas sofrem do problema.

Dependendo do grau da intolerância, chega a ser necessário evitar completamente o consumo de produtos com lactose. Isso significa se privar de consumir leite ou derivados, como chocolate, sorvetes, leite condensado, creme de leite, iogurte, manteiga, pudins e queijos. Ou seja, um monte de coisas gostosas. Há sempre a opção de usar um remédio à base de lactase, mas no Brasil eles só existem em farmácias de manipulação e nem sempre produzem o resultado desejado. O segredo para não passar mal, é não comer o que não pode.

Há outra solução possível. Problema para uns, oportunidade para outros. Existe um mercado para ser conquistado. Há hoje uma gama de produtos que são apresentados como sendo “zero lactose”. Queijos, leite, iogurtes, entre outros estão sendo oferecidos. O problema é que parece que o mercado local ainda não acordou plenamente para essa possibilidade. Isso não é uma moda, que vai passar. É uma tendência, que veio para ficar. Já é possível comprar vários produtos para consumir em casa. Mas, infelizmente, não é possível, ainda, ir a um restaurante ou bar e pedir um prato de risoto, por exemplo, sem lactose. Muitos restaurantes nem sabem o que é isso. Alguns poucos já preparam uma lista do que não tem glúten ou lactose, mas não fazem pratos específicos para esse consumidor.

O pior é a completa falta de opções para sobremesas! Digo isso com conhecimento de causa! É quase incompreensível que em um momento de crise, as empresas não estejam atentas para um público potencial que tem condições e deseja pagar por um produto que ele pode consumir. Mais ainda, os custos para preparar algo específico não são altos e, como a falta de lactose não atrapalha quem não tem a intolerância, os mesmos pratos podem ser servidos para todos.

É importante acordar para esse mercado. Aproveitar o momento e até, quem sabe, lançar modas. O consumidor gosta de ser bem tratado e saber que estão pensando nele. Quem sair na frente pode conquistar clientes fies. Esse é, normalmente, o sonho de qualquer empresa.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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