Por Tiago Cavalcanti*
A perda do grau de investimento foi colocada na conta de especuladores internacionais ávidos por juros elevados e na volatilidade nos mercados financeiros. O déficit nominal brasileiro de 10% da renda ao ano, o crescimento de 21,7% da dívida pública em 2015 e o alto percentual da dívida a vencer em 12 meses são só detalhes. Se o país for a bancarrota – espero que não vá - a culpa será da taxa de juros elevada que aumentou o custo da dívida. Após o pedido de ajuda às instituições financeiras internacionais, a recessão terá sido gerada pelo FMI, o grande vilão mundial.
O governo é isento da crise econômica, o Banco Central é inocente da alta dos preços e o Ministério da Fazenda não tem qualquer responsabilidade quanto ao aumento da nossa dívida pública. Contudo, há uma certeza: o contribuinte terá que pagar a conta seja através do aumento de impostos, da piora na oferta dos serviços públicos ou da queda real de benefícios, como a aposentadoria; ou através de todas as alternativas anteriores.
Podemos tentar também como a Grécia um “haircut” negociável da nossa dívida, onde os investidores possam concordar em receber apenas uma fração (no caso da Grécia 50%) dos títulos a vencer. Sem um fiador como o Banco Central Europeu, essa alternativa parece pouco provável. Mas podemos tentar. Ou podemos simplesmente, como a Argentina, decretar a moratória. O problema é que, dada a nossa baixa poupança, precisamos do capital externo emprestado para financiar nossos investimentos.
Uma alternativa é voltar a crescer. Mas como fazer isso no curto prazo? O contexto é difícil. O nosso ciclo de crescimento até 2012 foi baseado na demanda de commodities com o crescimento da China e com o aumento do mercado interno brasileiro. Esse modelo já dava sinais de esgotamento com a alta dos preços e uma infraestrutura precária. Segundo cálculos próprios, devido à conjuntura externa, a taxa de crescimento do PIB em 2015 deveria ter sido de 1,2% ao invés de -3,8%. São 5 pontos percentuais para menos devido à dinâmica interna do país!
O principal avanço do Brasil foi verificar que algumas instituições avançaram no combate à corrupção e isso pode mudar o modelo de fazer negócios no país. Ao invés de procurarmos vilões para os nossos problemas deveríamos nos responsabilizar pelas políticas implementadas que levaram a maior recessão da história republicana do Brasil. O governo Dilma não admite erros. Primeiro sinal de que está difícil mudar.
*Economista, Professor da Universidade de Cambridge e FGV-SP
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