Enquanto Eike Batista e a ex-mulher Luma de Oliveira, mãe de Thor e Olin, têm bens apreendidos pela Polícia Federal, os fiéis escudeiros do empresário não encontram motivos para reclamar. Cada um dos executivos, como Marcelo Cheniaux, Adriano Vaz, Ricardo Antunes, Rodolfo Landim, Joaquim Martino, Paulo Gouvêa, Flávio Godinho, Dalton Nosé e Marcelo Faber Torres saíram do grupo X levando entre R$ 70 milhões e R$ 200 milhões.
Em mais um capítulo do fim da novela Eike, três carros de luxo — dois Toyotas e uma BMW — foram apreendidos na quinta-feira (12) por policiais federais na casa de Luma, atendendo a mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz Federal Flávio Roberto de Souza, responsável pela ação penal em que o ex-bilionário figura como réu por crimes contra o mercado de capitais. O empresário já teve boa parte do patrimônio confiscado.
Para especialistas, o que está em curso não surpreende. Conhecido por ser extremamente centralizador, Eike brilhou sozinho no apogeu, ainda que artificial, do grupo X. Agora, está pagando, também sozinho, pelos erros cometidos. Antes da derrocada, Eike era o acionista controlador de todos os negócios do grupo. Fazia questão de dominar as situações, e nada podia avançar sem a bênção dele, conhecido por ser pouco democrático no trato diário com sócios e funcionários. “É óbvio que Eike é o grande responsável por tudo o que aconteceu e deixou de acontecer”, sustenta o presidente da Strategos Soluções Empresariais, Telmo Schoeler.
Os amigos do peito, por ora, não tiveram a vida nem os bens devastados. A cúpula do grupo se rebelou a tempo de não afundar no mesmo barco do ex-chefe. Até aqui, o “salve-se quem puder” deu certo. “Não há dúvida de que o principal alvo de qualquer ação será o próprio Eike, que tem o maior patrimônio. Com certeza, com raras exceções, todas as transações e todos os contratos do grupo foram avalizados por Eike”, comenta Schoeler.
Faz de conta
Como o conglomerado X era apenas uma fantasia, o ex-bilionário seduziu executivos de empresas do porte da Vale e da Petrobras com pacotes de ações. Quem aceitou a proposta e vendeu os papéis antes do colapso das companhias ganhou rios de dinheiro. Marcelo Faber Torres, diretor financeiro e de relações com investidores da OGX Óleo e Gás por cinco anos, acumulou fortuna de R$ 110 milhões. Foi demitido um ano e meio antes da empresa afundar, após uma briga com Eike.
Flávio Godinho e Paulo Gouvêa, amigos de Eike por mais de uma década, têm hoje R$ 200 milhões e R$ 150 milhões, respectivamente. Rodolfo Landim, antigo funcionário de carreira da Petrobras, entrou no sonho X com patrimônio de R$ 500 mil e o multiplicou por 240 em quatro anos, saindo com R$ 57 milhões. Ricardo Antunes, Joaquim Martino e Dalton Nosé deixaram a Vale para se tornarem diretores da MMX — os dois primeiros ganharam R$ 57 milhões; Nosé acumulou R$ 115 milhões em dois anos e meio de trabalho. Marcelo Cheniaux, Ricardo Antunes e Adriano Vaz pediram demissão quando o grupo começava a desandar, mas com a venda de ações ganharam pelo menos R$ 80 milhões.
O desmanche dos bens de Eike e de seus herdeiros não atingiu a riqueza daqueles considerados braços-direitos dele porque, internamente, foi possível perceber, com antecedência, o fim da ilusão. “A turma próxima a Eike notou a tempo que o cenário não era bom, que algo estava estranho. Quem pôde pulou logo fora, já pensando em escapar de futuros problemas”, avalia o consultor Marcos Assi, especialista em auditoria interna com 30 anos de experiência.
Alguns dos contratados para o alto escalão do grupo, acrescenta Assi, passaram a se recusar, inclusive, a assinar documentos, temendo consequências drásticas. Ao menos para os mais bem-sucedidos parceiros de Eike, as fortunas do “X” se concretizaram. Não à toa, a maior parte deles goza de um luxo conquistado às custas do mundo criado pelo ex-bilionário. “Eles se deram bem porque conseguiram se descolar da imagem de Eike, sempre muito controlador”, emenda.
SAIBA MAIS
Companheiros do peito. Conheça um pouco dos fiéis escudeiros de Eike Batista
Marcelo Faber Torres
Economista, foi diretor financeiro e de relações com investidores da OGX Óleo e Gás. Antes, trabalhava em um banco de médio porte em Londres. Brigou com Eike e foi demitido um ano e meio antes do colapso da OGX. Acumulou R$ 110 milhões. Está em “período sabático”. Pretende abrir uma gestora.
Flávio Godinho
Advogado, foi diretor de relações institucionais da EBX até 2013. Acumulou R$ 200 milhões. Virou consultor, passa a maior parte do tempo em Miami
Paulo Gouvêa
Formado em direito, foi chefe da área de finanças corporativas do Grupo EBX. Acumulou R$ 150 milhões. Comprou apartamentos em Nova York e Paris. Deixou o grupo de Eike em abril de 2011, desgastado em razão dos choques com outros diretores. Atualmente, é diretor de mercado de capitais e sócio da XP Investimentos.
Rodolfo Landim
Funcionário de carreira da Petrobras, cotado, recentemente, para ser presidente da empresa. Com Eike, multiplicou o patrimônio por 240 em quatro anos. Acumulou pelo menos R$ 57 milhões. Toca, hoje, a própria petroleira, a Ouro Preto, e uma empresa de investimentos, a Mare.
Dalton Nosé
Executivo oriundo da mineradora Vale, foi diretor da MMX. Em dois anos e meio com Eike, acumulou R$ 115 milhões. Saiu do grupo para trabalhar na Anglo Ferrous, uma unidade de negócio de minério de ferro no Brasil do conglomerado britânico de mesmo nome que havia se tornado sócio de Eike na MMX.
Joaquim Martino
Ex-diretor de operações do Sistema Carajás da Vale, foi diretor-geral da MMX. Acumulou pelo menos R$ 57 milhões. Tornou-se sócio de uma mineradora, a Manabi. Atualmente, cria gado.
Ricardo Antunes
Ex-executivo da Vale, tornou-se presidente da LLX. Ganhou R$ 80 milhões, antes de pedir demissão em 2009. Virou sócio de uma gestora que administra R$ 285 milhões e da mineradora Manabi.
Adriano Vaz
Chegou ao grupo X em 2002 e tinha 1% da MMX. Largou os negócios com Eike em 2009: pediu demissão e abriu negócio próprio. Ganhou pelo menos R$ 90 milhões e também virou sócio da gestora de Antunes.
Marcelo Cheniaux
Também chegou ao grupo X em 2002 e detinha 1% da MMX. Ganhou pelo menos R$ 80 milhões e pediu demissão em 2009. Virou sócio da mesma gestora que administra R$ 285 milhões.
Fonte: Revista Exame
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