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CINEMA

Filme 'Amigos de Risco' chega aos cinemas após 15 anos de sumiço da versão final

Publicado em: 24/05/2022 16:46

 (Irandhir Santos, Rodrigo Riszla e Paulo Dias protagonizam longa, que se passa no subúrbio do Recife. )
Irandhir Santos, Rodrigo Riszla e Paulo Dias protagonizam longa, que se passa no subúrbio do Recife.
Um documento histórico autêntico de um subúrbio recifense e, ao mesmo tempo, um passeio absurdista pelo preço da má influência compõem o longa de ficção Amigos de risco. Dirigido e escrito por Daniel Bandeira, o filme tem uma trajetória que, por si só, já renderia um roteiro inusitado. Após a finalização em 2007, foi exibido no 40º Festival de Cinema de Brasília e, no ano seguinte, teve a única cópia da versão final extraviada em um aeroporto, restando apenas a versão de rascunho. Em 2015, passado um longo litígio jurídico com uma companhia aérea, foi feita uma nova cópia com masterização digital e o filme foi exibido na 8ª Janela Internacional de Cinema do Recife. Agora, finalmente, entrou em cartaz no circuito comercial.

Na trama do filme, dois companheiros de longa data, Benito (Rodrigo Riszla) e Nelsão (Paulo Dias), marcam de se encontrar numa praça tarde da noite para encontrar Joca (Irandhir Santos), um amigo em comum que estava há algum tempo fora da cidade. A princípio, a noite segue em clima de reencontro e celebração até o momento em que Joca passa mal e fica desacordado, o que obriga seus amigos a lhe carregarem em busca de socorro.

Com fotografia de Pedro Sotero e direção de arte de Juliano Dornelles, antigos colaboradores de Kleber Mendonça Filho, Amigos de risco foi gravado entre setembro e novembro de 2005. O roteiro é tanto uma culminação temática das conversas nos ciclos de amizade do diretor quanto de sua vivência conflituosa com a noite recifense. Crescido no subúrbio tal qual os personagens da obra, Bandeira trouxe para o seu trabalho muito de sua experiência na adolescência, quando saía dos ambientes movimentados e festivos da cidade para pegar o transporte de volta para casa pelas ruas desertas. A atmosfera inóspita e a sensação constante de insegurança presentes em Amigos de risco são retrato fidedigno desse lado sombrio do Recife, que, na opinião do cineasta, é ainda mais violento e inóspito do que na sua juventude.

“Acredito honestamente que, mesmo com a discrepância tecnológica, essa relação entre nós e a cidade piorou muito. A sensação é de que vivemos sob o signo do medo. Convivemos mais com a ideia de violência do que com a violência propriamente, algo, em si, inequivocamente violento. Temos praticamente um toque de recolher informal, dependendo da rua em que você mora. Acho que Recife afiou suas garras de quando filmamos para hoje”, comenta Bandeira, ao Viver.

O eixo da narrativa, que trata já no título dessas relações de amizade e irmandade que se revelam perigosas, não encontra um elo propriamente autobiográfico, mas a construção dos protagonistas se deu a partir dos arquétipos que o cineasta identificava entre amigos e conhecidos. Bandeira, então, conciliou no texto do filme esse mote da narrativa universal com situações muito características do seu cotidiano e de toda a equipe de filmagem.

A baixa iluminação e a opção pela câmera na mão - sempre inquieta acompanhando a movimentação dos personagens - e a interação naturalista entre eles - conferem um dinamismo e uma crueza evidentes ao longa. O naturalismo não ganha aparência documental devido, principalmente, ao crescendo muito bem planejado pelo roteiro (situações dignas de uma comédia de erros cada vez mais inacreditáveis) e aos flertes ocasionais com o cinema de gênero (da comédia ao suspense e até o thriller de ação). “Embora o filme tenha esse lado mais espontâneo, a narrativa tem um caráter muito absurdo e lida bastante com tradições de gênero, algo que eu ainda sinto uma falta considerável no nosso cinema. Curiosamente, as cenas de tensão e perseguição do ato final eram as que eu tinha mais bem decupadas na cabeça”, diz.

Filmar em locação em plena madrugada também foi um desafio logístico enorme para a produção. A fim de que a continuidade ficasse crível - e, portanto, imperceptível -, a equipe teve que aproveitar o máximo de noites possíveis, começando várias diárias a partir das 20h e seguindo até o céu começar a clarear. A Avenida São Miguel, no bairro de Afogados, zona oeste do Recife, foi o cenário das cenas-chave de Amigos de risco e ofereceu ao filme a estética desértica apropriada para que a história ganhasse vida. De acordo com Bandeira, o suporte de órgãos como a CTTU e MetroRec foi fundamental para que ocorresse tudo bem durante o longo período de filmagens externas.

“As pessoas da área tinham desconfiança com a presença da câmera. Perguntavam o que estávamos fazendo ali e, quando dizíamos que era para um filme, mal acreditavam”, relembra Bandeira. “Acho que o audiovisual também tem essa função de dar uma dimensão cinematográfica a lugares que podem não ser esteticamente bonitos. Eles não só são importantes no dia a dia das pessoas, como oferecem inúmeras possibilidades narrativas.”
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