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TEATRO & MEMÓRIA

Reinaldo de Oliveira: 'Gostaria que o Teatro de Amadores continuasse no caminho atual'

Publicado em: 22/02/2021 14:40 | Atualizado em: 22/02/2021 21:25

Ator, teatrólogo, contista, compositor, médico... múltiplo, Reinaldo carrega o legado do TAP, que está prestes a completar 80 anos (Foto: Yeda B Mello/Divulgação)
Ator, teatrólogo, contista, compositor, médico... múltiplo, Reinaldo carrega o legado do TAP, que está prestes a completar 80 anos (Foto: Yeda B Mello/Divulgação)

Na cultura, existem figuras que carregam consigo uma imensidão de vivência, conhecimento, legado e representatividade, despertando uma admiração unânime na sociedade. É o caso de Reinaldo de Oliveira, ator, teatrólogo, contista, compositor e médico recifense, que completará 91 anos em junho. Em 2021, Reinaldo verá o Teatro de Amadores de Pernambuco, criação do seu pai, Valdemar de Oliveira, completar 80 anos. Já o teatro que leva o nome de Valdemar, localizado na Boa Vista, chegará aos 50 anos de existência. "Eu me sinto com a mesma idade do TAP. Um grupo que completa 80 anos, completa uma idade ideal. É um marco teatral nacional e eu me sinto responsável, em grande parte, por essa trajaetória", diz Reinaldo, em entrevista ao Viver.

Com a saúde já fragilizada pela idade, Reinaldo vive em Boa Viagem, com a esposa, Paula, e a filha, Diná. Em 2019, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o que afetou a compreensibilidade de sua fala. Foi Yeda, outra filha, quem colheu as respostas para essa entrevista. No final de 2020, ele voltou a ser internado, por causa de uma infecção urinária, mas já está recuperado, em casa, e foi vacinado contra a Covid-19 na última semana. Mesmo afastado dos palcos, os holofotes continuam acesos e as cortinas estão sempre prestes a abrir em sua memória.

Reinaldo de Oliveira viveu como poucos pernambucanos, seja pela longevidade ou por sua vida atravessada pelo teatro. "Acho que fiz tudo o que devia, de agora em diante é com a nova geração. Gostaria que o TAP continuasse no caminho atual", avalia. Sobre a época que mais marcou a sua vida, o consagrado ator aponta a reconstrução do Teatro Valdemar de Oliveira após um incêndio ocorrido em 1980. A escolha dele foi feita entre episódios que atravessam nove décadas.

Janice e Reinaldo de Oliveira em Arsênico e Alfazema (Foto: Acervo do TAP)
Janice e Reinaldo de Oliveira em Arsênico e Alfazema (Foto: Acervo do TAP)

Filho de Valdemar e Diná, ambos envolvidos com artes cênicas, Reinaldo se integrou ao universo teatral com naturalidade. Ele começou a atuar ainda criança, em 1939, na peça O pequeno polegar, uma montagem infantil do Grupo Gente Nossa (1931-1939), que em 1941 passou a ser o TAP. Na companhia, agora octogenária, Reinaldo desenvolveu e colocou em prática o seu amplo conhecimento do teatro: foi ator, encenador, sonoplasta e iluminador, tendo aprendido bastante com o polonês Zbigniew Ziembinski, figura-chave no teatro de vanguarda brasileiro. Valdemar preparou o filho, direta e indiretamente, para assumir o seu lugar de líder do grupo. E assim ocorreu depois do falecimento, em 1977.

O jornalista e pesquisador do teatro pernambucano Leidson Ferraz acredita que Reinaldo é o maior exemplo do que Valdemar pretendia com o TAP. “Ao analisar a trajetória do grupo, é possível perceber que eles primaram por um repertório eclético, inicialmente preparando uma dramaturgia estrangeira, o que recebeu muitas críticas, e mais para frente entram os textos nacionais e nordestinos”, afirma. “O TAP foi uma escola, pois Reinaldo nunca passou por uma formação de escola de ator, o aprendizado se deu na prática. Ao correr do tempo, ele vai mostrar isso ao apostar justamente num repertório eclético. Ele poderia apresentar uma comédia, uma farsa, um drama. Ele é um verdadeiro exemplo do ator múltiplo, eclético, que experimentou todos os gêneros e linguagens daquele momento.”

SHOWMAN
Ao explorar os acervos da imprensa pernambucana, Leidson notou que Reinaldo nunca passou despercebido pelos críticos, mesmo quando fazia pontas. “O próprio Valdemar de Oliveira vai falar das fragilidades do filho como ator, quando Reinaldo passa a atuar em peças do Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), do qual foi fundador. Mesmo quando dirigia o filho, Valdemar nunca passou a mão na cabeça dele. Reinaldo tem um brilho, podemos dizer que ele é um enorme talento em cena. Eu acredito que Reinaldo seja um dos melhores atores do Brasil, apesar de não ter a projeção de quem foi construir carreira no Rio ou em São Paulo.”

Leidson Ferraz lembra de dois espetáculos para exemplificar o talento do ator. Um sábado em 30 (1963), com texto de Luiz Marinho (1926-2002), foi uma peça que ele atuou em diferentes épocas da vida, mas despertando as mesmas reações do público com o personagem Chico. Em 2004, Reinaldo foi convidado para abrir o Janeiro de Grandes Espetáculos com uma apresentação solo chamada Reinaldo ao vivo. “Eu era assessor do evento e morri de medo, achava que ele não ia dar conta. Ele dominou a plateia, pois sabe contar histórias muito bem. Ele é um verdadeiro showman”, diz o pesquisador.

Admiração que transcende o teatro
Antônio Brito Miguel, Diná de Oliveira, Reinaldo e Geninha da Rosa Borges em Arsênico e Alfazema (Foto: Acerdo do TAP)
Antônio Brito Miguel, Diná de Oliveira, Reinaldo e Geninha da Rosa Borges em Arsênico e Alfazema (Foto: Acerdo do TAP)

Assim como Valdemar de Oliveira, Reinaldo conciliou o teatro com as atividades na medicina. "Ele operou milagres em seus pacientes e é muito querido por todos", diz Renato Phaelante, radialista que trabalhava na Rádio Clube quando foi convidado para ingressar no TAP, em 1974, se tornando um grande amigo de Reinaldo. "Ele é um médico de verdade, pois não tem interesses, não foi tocado pela mercantilização da medicina. Fez muitos favores, operou de graça", continua Renato, que formou uma dupla de sucesso com Reinaldo em Você pode ser um assassino, de Alfonso Paso.

"Ele gostava muito de trabalhar comigo, lembro de muitos momentos hilariantes. Reinaldo provocou muitos risos na plateia, provocando os próprios atores em cena com a sua verve, o seu talento. Como pessoa, ele é um homem muito simpático, delicado com os amigos, fazia amizades como ninguém. Ele brinca, é uma pessoa muito natural, um ser humano espetacular. Para mim, é um irmão", completa Renato.

Na sociedade pernambucana, a admiração por Reinaldo de Oliveira transcende a cena teatral e seu público. Um exemplo é a sua atuação no Rotary Internacional, antiga associação de clubes que promove serviços humanitários e valores éticos. Ele faz parte do clube de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife, e foi governador do distrito 4,5 mil do Rotary (que abrange todas as cidades de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, entre 1994 e 1995.

"Ele sempre exerceu uma liderança magnífica nos eventos do Rotary, sempre brincando e recitando os seus contos de forma musicada, uma característica que ele domina com muita maestria", diz o advogado Philipe Jardelino, que preside atualmente o Rotary E-Club. "Cheguei a atuar no TAP em 1989, mas segui o caminho da advocacia. Reinaldo contribuiu com a minha riqueza literária, de conhecer esse despertar para a criatividade, da possibilidade de desfrutar as experiências do dia a dia da criação." Amigo da família, Philipe o visitou antes da pandemia. "O brilho nos olhos ainda permanece", diz.

SOLIDARIEDADE
O Teatro de Amadores mantém uma ação chamada Dê a Mão ao TAP, com o intuito de reunir recursos para cobrir os gastos do teatro, setor duramente atingido pela pandemia. Mas a ajuda é bem-vinda para além desse contexto, já que o grupo vem passando por difícil situação financeira nos últimos anos. Em nome de Valdemar e Reinaldo, mas também de Geninha da Rosa Borges, Renato e Vanda Phaelante, Fernando de Oliveira, Pedro de Souza, Enéas Álvarez e Rogério Costa, entre outros, o TAP deve continuar vivo. São tradições como essa que constroem e mantêm a pernambucanidade.
 
Biblioteca

Reinaldo de Oliveira: Do bisturi ao palco (Cepe)
Antônio Cadengue (2018)
 (Foto: Cepe/Divulgação)
Foto: Cepe/Divulgação

O palco da minha vida (Bagaço)
Reinaldo de Oliveira (2011)
 
Doação
Dê a Mão ao TAP
Banco: Santander
Agência: 1573
Conta-corrente: 01007148-7
Titular: Yeda Bezerra de Melo (diretora financeira do TAP)
CPF: 448.763.354-00

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