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ARTES PLÁSTICAS

Roberto Ploeg celebra 25 anos nas artes com exposição de retratos no Recife

Publicado em: 02/12/2020 12:25 | Atualizado em: 02/12/2020 13:38

Roberto Ploeg ao lado do quadro Autorretrato quando triste (2019) (Foto: Sandy James/Esp. DP)
Roberto Ploeg ao lado do quadro Autorretrato quando triste (2019) (Foto: Sandy James/Esp. DP)


Quarenta e sete rostos contam histórias, seja no resgate de referências da vida de Roberto Ploeg, na representatividade de personagens da periferia ou na criação de elementos artificiais dentro da linguagem do realismo. Através das técnicas pictóricas, as histórias de cada retrato são criadas a partir do imaginário afetivos, políticos e artísticos dos visitantes da exposição Ploeg e outras narrativas, do homônimo artista plástico holandês radicado em Pernambuco, na Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife).

Ploeg está comemorando 25 anos de carreira nas artes, enquanto a Arte Plural completa 15 anos de funcionamento. Após quase um ano de portas fechadas por conta da pandemia, a galeria receberá visitas nas segundas, quartas e sextas, das 10h às 17h. Aos sábados, com agendamento por telefone (81 3424-4431) ou email (contato@artepluralgaleria.com.br), vão ocorrer visitas guiadas com o artista para pequenos grupos.

O pintor veio para Pernambuco quando conheceu Dom Helder Câmara, em 1979, na Holanda. O arcebispo fazia uma das costumeiras viagens à Europa para discursar sobre o autoritarismo e refugiados políticos da ditadura brasileira. Interessado na teologia libertária, Ploeg morou no Recife, na Zona da Mata, em Campina Grande (Paraíba) e em Olinda, onde finalmente expandiu os seus horizontes nas artes. Ele viveu uma época movimentada do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, no Carmo, quando por lá circulavam artistas como José Carlos Viana, José de Moura, Delano. Também frequentou o ateliê coletivo de Rua São Bento, com nomes como Gil Vicente, Samico, Maurício Arraes e Luciano Pinheiro, que é o curador da nova exposição.

Menino com gaiola (2020) e Em Um rei africano em Olinda (2020) (Foto: Roberto Ploeg/Divulgação)
Menino com gaiola (2020) e Em Um rei africano em Olinda (2020) (Foto: Roberto Ploeg/Divulgação)


Apesar de viver 40 anos em Pernambuco, Ploeg nunca abandonou um certo olhar estrangeiro no sentido de enxergar o diferente no que é aparentemente corriqueiro para recifenses. É o que se vê, por exemplo, em Menino com gaiola (2020), obra que integra um conjunto de retratos de personagens que o artista conheceu durante suas passagens e estadias pelas periferias do Grande Recife. "Como teólogo engajado com comunidades de base, eu sempre morei e trabalhei com pessoas de periferia. A minha leitura no Brasil tem esse lugar, embora eu seja da classe média", explica o artista, durante uma visita guiada para a imprensa na última segunda-feira.

Em Um rei africano em Olinda (2020), um gari negro, amigo do artista, é colocado em posição imponente em uma ladeira do Sítio Histórico. “Ele está entre a Igreja de São João, que é a igreja dos militares, e entre a cabine da polícia no carnaval. Quero denunciar como o negro ainda é visto com problema de segurança e está posições subalternas, apesar de seu protagonismo na nossa cultura e história", explica o artista. Sou Mais Nil Motos (2011), que retrata uma paisagem da esquina da casa do pintor, ou Travessia (1998), que surpreende pela variedade de estampas na casa de uma mulher religiosa, são outros exemplos da imersão nas periferias.

Ploeg ao lado da tela Babyboomers, meus irma%u0303os e meus primos (2018)  (Foto: Sandy James/Esp. DP)
Ploeg ao lado da tela Babyboomers, meus irma%u0303os e meus primos (2018) (Foto: Sandy James/Esp. DP)


A vivência na Holanda também está representada em Babyboomers, meus irmaãos e meus primos (2018) e Babyboomers, minhas irmaãs e minhas primas (2017), duas telas grandes que retratam fotos da extensa família do artista no começo da década de 1960. “Vejo esse contexto como resultado da explosão demográfica no pós-Segunda Guerra na Europa, como um renascimento, uma reconstrução em cima das ruínas do conflito. Por isso, vemos a natureza morta nessas telas."

O país de origem também está presente nos traços. Ploeg é inspirado pelo realismo holandês, escola que cresceu junto com a ascensão da burguesia no século 17. "Com Vincent van Gogh ganhamos mais liberdade de cor, com Piet Mondrian temos abstração intelectual. A história da pintura holandesa diz muito sobre minha obra, pois me considero um pintor ocidental", conta o Ploeg, que também ressalta por diversas vezes a sua admiração pelo pintor britânico Lucian Freud, neto de Sigmund Freud, que ficou conhecido também por retratos mais rústicos, bastante realistas. Na Arte Plural, a inspiração no inglês é constatável em Minha mãe aos noventa anos (2011), que reforça a narrativa autobiográfica da exposição.

 (Foto: Arte Plural Galeria/Divulgação)
Foto: Arte Plural Galeria/Divulgação

Vidal ou Homero declamando seus versos (2020), que retrata um amigo que ficou cego, remete a história da arte pela influência de Rembrandt. É uma obra enigmática, com pintura complexa pela riqueza de cores frias e sombras. Essa obra integra uma última narrativa da exposição, que aposta nessa subversão do realismo. É nela que está O cavalo desolado (2018), em que o animal tentar expressar um sentimento tão humano. No colorido E%u0301 o mundo pegando fogo (2017), os dois filhos do artista, já adultos, são colocados em meio às referências de brincadeiras da infância. “A arte de Ploeg não é inocente, ela anuncia e denuncia com a delicadeza dos iluminados”, resume Luciano Pinheiro, em seu texto curatorial.
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