Pernambuco.com
Pernambuco.com
Notícia de Divirta-se

CINEMA

'É um filme sobre a morte, mas é um filme de vida', diz Bárbara Paz, sobre Babenco

Publicado em: 26/11/2020 13:30 | Atualizado em: 26/11/2020 10:40

O documentário foi o escolhido pelo Brasil para disputar vaga no Oscar 2021 (Foto: Divulgação)
O documentário foi o escolhido pelo Brasil para disputar vaga no Oscar 2021 (Foto: Divulgação)


Como uma colcha de retalhos costurada a mão com depoimentos pessoais, cenas de filmes e memórias de família, o longa Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, que estreia nesta quinta-feira (26) nas salas pelo país, fala sobre amor. Amor do cineasta argentino naturalizado brasileiro, Hector Babenco, pela vida, pelo cinema e pela arte. É uma homenagem da diretora e atriz Bárbara Paz ao marido, Babenco, falecido em 2016, aos 70 anos. Os paralelos entre a luta enfrentada pelo diretor contra o câncer e a sua paixão pela sétima arte marcam o documentário, escolhido pelo Brasil para disputar vaga no Oscar 2021.

Em seu primeiro longa, a diretora se desnuda frente ao medo e à fragilidade quando se propõe a registrar os últimos dias de vida de seu marido, tornando-o protagonista da própria morte. “Eu tinha que contar a história desse homem, como uma despedida. Queria deixar registrado antes que não houvesse tempo, a gente não sabia até onde ele aguentaria e tínhamos medo que não desse tempo”, afirma Paz, ao Viver. A produção foi premiada como Melhor Documentário em mostra do Festival de Veneza de 2019 e no Festival de Viña Del Mar, no Chile, em 2020.



Babenco relata: “Eu já vivi a minha morte, agora só falta fazer o filme”. Diagnosticado com câncer aos 38 anos, o diretor enfrentou longa batalha pela vida até os 70 anos. “Ele fazia filmes para sobreviver. Queria viver sempre para poder fazer mais um filme, como ele conta no doc, ‘estar filmando é viver um dia a mais. Não sei o que vem primeiro, filmar ou estar vivo’.” Repleta de simbolismos e reflexões do cineasta, o longa é uma declaração de amor a Hector e à sua arte, onde a beleza transcende a dor da perda. “É um filme sobre a morte, mas é um filme de vida”, sintetiza Bárbara.

As cenas de Babenco em leitos de hospital se misturam com relatos firmes, imagens de rotina em casa e trechos de filmes do diretor como Pixote: a lei do mais fraco (1980), O beijo da mulher aranha (1985) e Carandiru (2003). Após a morte de Hector e com um vasto acervo em mãos, Bárbara mergulhou no processo de roteirização, montagem e edição por quase três anos. “Ele acreditava no meu olhar, e todo o roteiro foi construído por mim. Nada do que está presente no filme foi em vão ou entrou gratuitamente. É o que representava naquele momento da vida dele. Tudo foi muito estudado e experimentado para chegar nessa versão final, tivemos que abrir mão de muitas cenas”, conta a atriz.

Entrevista - Bárbara Paz

 (Foto: Bob Wolfersen/Divulgação )
Foto: Bob Wolfersen/Divulgação


Como foi vivenciar esse luto precoce? Em algum momento pensou em desistir por vêlo fragilizado?
Na verdade, quando a gente está próximo, não tem essa consciência de finitude. Só pensava que nós dois estávamos juntos naquele momento. E sim, muitas vezes eu não conseguia filmar, principalmente nos períodos que passamos no hospital, mas ele pedia para que eu gravasse, ele queria parecer que eu estava intuindo ele. Foram sete anos de filmagem, entre pausas curtas e longas. Esse projeto é mais que um filme, é um retrato de uma vida, então eu tinha que finalizar.

O filme é carregado de sentimentalismo, de lembranças e reúne frases bem marcantes de Hector sobre sua trajetória, a importância do cinema para a sua vida e a convivência íntima com a morte. Como as conversas foram guiadas entre vocês? É um filme também sobre a relação, sobre o olhar do outro. Quando você está na intimidade, você se revela mais. Mas o filme foi construído da mesma forma com que se faz um documentário, através da escuta. E ele sabia o que queria compartilhar, então eu escutei ele, escutei sobre os momentos de dor, a vida, o cinema. Foram muitas histórias.

Há uma cena em que artistas, familiares e amigos de Hector se reúnem em um jantar. E a câmera passeia por todos os locais, ilustrando a presença oculta do cineasta, acompanhada de sua narração. Esse evento foi previamente combinado com ele?
O Hector fez uma lista de quem estaria naquele jantar. O encontro aconteceu meses depois da sua partida, participaram seus familiares, amigos, artistas, quem ele queria que estivesse. Era para que fosse uma despedida.

Quem foi Babenco?
Ele foi um grande amor. Um grande pensador, um grande poeta, o poeta das imagens e das palavras. Um cara que era um leão e que amava demais a vida. O que eu mais amava nele era essa vontade intensa de viver. A fúria que ele tinha pela vida.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Consulado da RPCh no Recife tem nova cônsul-geral
Mergulho no Brasil é uma possibilidade para os turistas chineses
Cenas da China aparecem em meio ao barroco brasileiro e intrigam pesquisadores
Ao vivo no Marco Zero 09/02 - Carnaval do Recife 2024
Grupo Diario de Pernambuco