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CINEMA

O diabo de cada dia, lançamento da Netflix, narra gerações conectadas pela violência

Publicado em: 19/09/2020 16:01 | Atualizado em: 19/09/2020 17:13

 
 (Foto: Divulgação/Netflix)
Foto: Divulgação/Netflix
 
Em O diabo de cada dia, o diretor e roteirista Antonio Campos adentra num Estados Unidos profundo, em um espírito violento e teocrático da cidade Knockemstiff, no estado de Ohio. Lançamento da Netflix, o longa do cineasta norte-americano, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes, é uma adaptação do livro de Donald Ray Pollock, que faz o papel de narrador no filme. Com um elenco de estrelas formado por Tom Holland, Jason Clarke e Robert Pattinson, o filme é um conto sobre como em um microcosmo rural várias famílias e gerações se conectam pela violência.

A trama do filme começa a ser contada a partir de um universo de pais e filhos. Willard Russell (Bill Skarsgård) volta traumatizado para a cidade depois da Segunda Guerra Mundial. Junto com seu filho Arvin, o homem que deposita todas suas fichas na fé cristã - assim como a maioria da cidade - vê sua esposa Charlotte (Haley Bennett) adoecer e falecer por conta de um câncer. Willard molda a experiência de luto de Arvin de uma maneira que conduz a personalidade dele a partir de uma dureza e um entendimento de vida através do sacrifício. Pouco depois o filme já nos apresenta Arvin (Tom Holland) mais velho, vivendo na cidade e cuidando de sua irmã, Lenora (Eliza Scanlen), que teve sua mãe (Mia Wasikowska) assassinada por um pastor (Harry Melling).

A descrição dos primeiros 20 minutos do filme parece um trem descarrilhado de tragédias, mas é essa justamente a tônica do filme, sua vocação por impacto que a cada assassinato vai perdendo o poder sobre o espectador. Diferentemente de um Era uma vez em Hollywood (2019) ou até mesmo Parasita (2019), exemplos recentes que preservam a catarse de sua violência em uma sequência final, em algum momento isso se torna previsível, essa tentativa de se colocar em um lugar constante do impressionar. Até a narração, feita pelo próprio Donald Pollock, por mais que seja uma forma de inserir o criador da narrativa no filme, é um recurso que cansa, geralmente explicando sentimentos de personagens e situações que acabam de nos ser mostradas. Talvez o maior destaque na forma que o longa conta a história seja por conta do trabalho atores - mesmo o sotaque puxado soando meio extra na boca de atores não-americanos -, principalmente para Tom Holland, que consegue entregar bem a performance.
 
 (Foto: Divulgação/Netflix)
Foto: Divulgação/Netflix
 
De cara, o filme traz certa familiaridade - talvez como apontado em outros momentos pelo seu modus operandi - ao estilo dos Irmãos Coen, como em Onde os fracos não têm vez (2007). Não só nos personagens arquetípicos ou nas paisagens e contextos que se passam a história, mas também em uma visão sóbria de que o universo é indiferente às tragédias humanas. Os personagens de O diabo de cada dia são como um dominó enfileirado e cai um após o outro: é justamente isso que os conectam no filme, a tragédia como denominador comum a esse interior profundo e conservador. É um efeito de desencadeamento de violência passado entre gerações e entre as próprias relações de convívio social.

Mas a ambientação desse universo não traz nada de novo no filme, muito menos soa original. Mesmo que seja um universo muito fascinante se formos pensar esse modelo de sociedade como um forma de mito fundador da América, de liberdade, religião, família e branquitude. Tudo isso que hoje se manifesta com força em um país armamentista, com movimentos supremacistas brancos e antivacina - uma parte do país com uma força opaca das instituições e que poucos anos atrás voltou a decidir o rumo das coisas. É justamente essa a política dos personagens do filme, essas pessoas ordinárias, que não têm ideia do tamanho de suas ações brutais, que acontece a todo tempo com tamanha indiferença.
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