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Documentário Planeta dos Humanos distorce papel das energias alternativas

Publicado em: 19/05/2020 13:15 | Atualizado em: 19/05/2020 13:16

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
O documentário Planeta dos Humanos, de Jeff Gibbs, tem alguns defeitos e qualidades dos filmes de Michael Moore, seu produtor executivo, além de outros que lhe são próprios. Na mira estão as sacrossantas energias alternativas, mas os 102 minutos da obra mais parecem um tiro no pé do que no alvo. Quem não gosta de ver uma vaca sagrada sob ataque? Gibbs elegeu o capitalismo verde para praticar a iconoclastia sem compromisso com evidências (e olhe que o bom-mocismo ecológico de resultados tem vários flancos abertos). Mal consegue balançá-lo em seu pedestal.

Começando pelas poucas qualidades. Faz bem à opinião pública ver expostas as inconsistências e, por que não, a hipocrisia de figuras dadas à santimônia ambiental como Al Gore, Michael Bloomberg e (com menos razão) Bill McKibben. Entrevistas de emboscada ao estilo de Moore sempre rendem cenas divertidas.

Em raro momento de genuíno jornalismo investigativo, Gibbs vai atrás dos portfólios de alguns fundos de investimento autoproclamados sustentáveis. Revela que empresas de energia solar e eólica podem compor em alguns casos menos de 1% dos papéis em carteira, cheia de títulos de mineradoras, petroleiras, madeireiras e bancos.

A tese que anima Planeta dos Humanos é até defensável: o problema maior a ameaçar o futuro da Terra, para além dos combustíveis fósseis e da mudança climática que desencadearam, está no aumento descontrolado da pegada ecológica da humanidade, com o crescimento da população e o avanço dos padrões de consumo.

Gibbs está certo ao mostrar que a queima global de combustíveis fósseis não caiu após o advento das turbinas eólicas e parques de painéis solares, ou que a geração de eletricidade com biomassa em alguns casos contribuiu para dizimar florestas. Mas isso não basta para provar que as energias alternativas sejam uma farsa, como pretende. Aí se originam os muitos defeitos do documentário. Para começo de conversa, é mau cinema, eivado de problemas técnicos (péssimo som direto) e de emoções baratas na trilha sonora. A narração em primeira pessoa, entre indignada e chorosa, é o recurso fácil de quem busca adesão com argumentos ralos.

É velha de uma década a maioria das imagens de apoio à denúncia de que turbinas e painéis são insustentáveis ou mesmo inúteis para diminuir carbono lançado na atmosfera e para combater o aquecimento global. Mostrar um parque solar antigo, com eficiência de 8% na conversão de luz em eletricidade, só serve para obscurecer que, em 2020, os dispositivos fotovoltaicos chegam a 20% e seu preço caiu 90%.

Sim, fazendas eólicas e solares consomem energia e matérias-primas, não raro de fontes fósseis. Afirmar que não impliquem ganho para descarbonização é pura e simplesmente falso: em menos de 10% de sua vida útil para operação, elas compensam todo o CO2 e outros gases do efeito estufa emitidos na fabricação, transporte e instalação da infra-estrutura.

Ninguém nega que a intermitência dessas fontes alternativas seja um problema, pois o sol não brilha à noite nem venta o tempo todo. Gibbs não foi o primeiro a perceber isso, nem Dilma Rousseff. Redes de distribuição inteligente podem, contudo, destinar o excedente fora de pico ao armazenamento em baterias ou reservatórios de hidrelétricas.

O viés de Planeta dos Humanos se escancara ao omitir estudos comprovando que, analisado todo o ciclo de vida das usinas, fontes alternativas dão, sim, contribuição líquida para descarbonizar a atmosfera. Não há uma palavra no filme sobre os esforços internacionais para diminuir emissões iniciados em 1992, mesmo que para denunciá-los como pífios e fracassados.

Para um documentário sobre tema contemporâneo, é constrangedor mostrar Al Gore e Barack Obama e não ter Greta Thunberg e Donald Trump. Moore e Gibbs tentam se defender dizendo que só queriam deflagrar uma discussão, mas na prática só lançaram gasolina sobre a fogueira de paixões antiambientais na extrema direita.

Desde o lançamento em 21 de abril, o filme foi visto gratuitamente numa plataforma de vídeos por quase 8 milhões de pessoas. Vários milhões se acrescentarão quando o pessoal dos caixões vazios e das mamadeiras despirocadas descobrir que já existe versão legendada em português.

Assista Planeta dos Humanos:

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