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COVID-19

Abraham Palatnik, pioneiro da arte cinética, morre aos 92 anos por coronavírus

Por: FolhaPress

Publicado em: 09/05/2020 14:21

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
Morreu neste sábado (9) o artista potiguar Abraham Palatnik, precursor da arte cinética e fundador da arte tecnológica no Brasil. Aos 92 anos, ele tinha sido internado em estado grave em 1º de maio, no Rio de Janeiro, com sintomas de Covid-19.

Filho de judeus russos, o artista se mudou para a região que hoje corresponde a Israel aos quatro anos de idade. Na adolescência, em Tel Aviv, estuda física e mecânica numa escola técnica. Concilia a especialização em motores de explosão com aulas de arte e a vivência em ateliês de pintura e de escultura.

Palatnik retorna ao Brasil aos 20 anos, desta vez indo morar no Rio de Janeiro. Lá, faz amizade com nomes como o artista Ivan Serpa e o crítico Mário Pedrosa, com quem forma, anos depois, o histórico Grupo Frente, ao lado ainda de Lygia Clark, Franz Weissman, Ferreira Gullar e outros.

Outro colega fundamental na época foi o pintor concreto Almir Mavignier. É ele que o leva para conhecer o trabalho de arte-terapia da médica Nise da Silveira, no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro.

O impacto de pinturas de pacientes do local, como Emgydio de Barros e Raphael Domingues, foi definido por Palatnik como "uma pancada" numa entrevista à Folha de 2013. "Os internos tinham uma autenticidade incrível. Comecei a achar que jamais conseguiria fazer pinturas tão fortes, tão densas, tão bonitas, com tanta desenvoltura, quanto os doentes faziam."

É assim que, na transição para os anos 1950, Palatnik abandona as tintas e o pincel para retomar os estudos da adolescência e criar trabalhos com movimento e luz.

É dessa combinação que nasce o seu "Aparelho Cinecromático". Uma máquina apta a gerar obras de arte, nas palavras de Mário Pedrosa, a traquitana é composta de dezenas de lâmpadas coloridas que se movimentam atrás de uma tela opaca. O efeito é de um teatro de sombras abstrato, invertido.

Por insistência de Pedrosa –foi ele, aliás, que batizou o aparelho–, a obra é inscrita na primeira Bienal de São Paulo, em 1951. Exibida no lugar dos trabalhos da representação japonesa, que não chegaram a tempo, ela recebe menção honrosa do júri internacional.

A máquina estimula toda a investigação de Palatnik no terreno da arte cinética, culminando, mais de uma década depois, nos seus "Objetos Cinéticos". Neles, o artista expõe o mecanismo interno de funcionamento dos "Cinecromáticos". São esculturas com arames e formas de madeira coloridas em movimento, espécies de móbiles de Calder motorizados, ou pinturas do catalão Joan Miró que resolveram dançar um balé.

É só na época dos "Objetos", aliás, que Palatnik começa a ser reconhecido como um dos precursores da arte cinética no mundo, ao lado do venezuelano Jesús Rafael Soto ou do israelense Yaacov Agam, entre outros.

Ao participar de Bienal de Veneza de 1964, ele encantou até mesmo Miró –que pediu uma poltrona para contemplar os "Cinecromáticos", contou Palatnik naquela mesma entrevista de 2013. "Ele queria ficar sentado, cômodo, admirando o meu trabalho", disse o artista "Ficou lá parado um tempão."

Mais tarde, Palatnik realiza trabalhos que deixam de lado a mecânica e apenas simulam movimentos com grafismos.

É o caso dos seus "relevos progressivos". Realizadas a partir de materiais que vão da cartolina a um composto de gesso e cola, as séries, que atravessam décadas, criam a ilusão de movimento a partir de contrastes entre padrões, formatos e cores.

Além desses, Palatnik criou obras interativas, pinturas em vidro, móveis, e até um jogo que, parecido com o xadrez, busca ativar a percepção ao ter como objetivo formar o vértice de um quadrado.

Em 70 anos de carreira, o artista participou de cem exposições, no Brasil e no exterior. Entre elas, quatro Bienais de São Paulo, a histórica "Mouvement 2", na galeria parisiense Denise René, e tem obras em coleções como as do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Num depoimento ao Itaú Cultural há dez anos, o crítico e curador Frederico Morais, autor de um livro sobre Palatnik, comparou seu trabalho ao de um relojoeiro. "Se você visitar o ateliê dele, vai ver que ele no fundo é um artesão. E que apesar de ter essa coisa matemática, ele nunca descartou a ideia da intuição."

Já Palatnik não gostava muito de falar do próprio processo criativo. Quando se propunha a comentar o assunto, afirmava que tinha um só desejo: "disciplinar o caos". "Não é difícil, não", dizia.
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