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BBB 20: Polarização, influenciadores e cultura do 'cancelamento' renovam buzz do reality

Publicado em: 26/02/2020 15:40 | Atualizado em: 29/12/2020 22:32

 (Arte: Beró)
Arte: Beró


A sensação de estar dentro de uma casa, acompanhando o cotidiano de pessoas desconhecidas em tempo real, foi algo revolucionário quando o Big brother estreou no início dos anos 2000. O reality show é um dos poucos gêneros totalmente criados para a era televisiva, assim como o videoclipe - outras linguagens foram herdadas dos jornais impressos e das rádios. A versão brasileira, na TV Globo, foi um sucesso absoluto por muitos anos. Desde meados da década de 2010, no entanto, os índices de audiência caíram, sobretudo em 2015 e 2019. Falta de ineditismo, narrativas repetitivas ou pouco atraentes foram alguns dos motivos.

Neste ano, a febre do BBB conseguiu uma renovação por se apropriar de fenômenos que ascenderam nas redes sociais, como polarização ideológica, influenciadores digitais e cultura do "cancelamento". O reality tem tentado funcionar como um "zeitgeist", um "espírito" de nossos tempos. A popularização das pautas identitárias nos últimos anos, que aprofundaram discussões sobre machismo, racismo e LGBTfobia, criaram cisão na sociedade e isso chegou ao programa. Paula von Sperling, indiciada por intolerância religiosa por frases ditas enquanto confinada, venceu a edição do ano passado. Isso fez com que muitos espectadores entendessem que a atração estava acompanhando um certo imaginário reacionário do Brasil.

Em 2020, o elenco parece ter sido orquestrado propositalmente para criar embates provenientes da polarização. De um lado, mulheres feministas e empoderadas. Do outro, homens pouco ligados (até avessos) às questões identitárias. O estopim do conflito foi quando alguns deles tiveram a ideia de promover um "teste de fidelidade" com as meninas comprometidas na casa.

Essa dualidade conseguiu insuflar as redes. Algumas controvérsias incluíram até perícia policial. Ainda na segunda semana, o atleta Petrix Barbosa foi acusado de protagonizar uma série de assédios, como quando apalpou os seios da influenciadora Bianca Andrade (a Boca Rosa), então embriagada. Os casos ocasionaram advertências e criaram uma onda de impopularidade que resultou na eliminação de Petrix com 80,27%. Hadson, desse mesmo grupo, foi eliminado com 79%. Na última terça, foi a vez de Lucas, com 62,62% de rejeição.

"A dinâmica do Big brother sempre acaba polarizando as pessoas da casa, mas em outras edições esse fenômeno ocorreu por outras ordens. No BBB 9, por exemplo, tivemos a casa inicialmente dividida entre ‘ricos e pobres’, o que se perpetuou durante todo o jogo", explica Ariane Holzbach, professora de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das organizadoras do livro TeleVisões: Reflexões para além da TV (2018).

A 20ª edição também está marcada por convidar um time de influenciadores para compor o elenco. Segundo Holzbach, esse movimento aparece para rejuvenescer o formato e conectar o universo digital com a TV aberta (que parecem ter públicos cada vez mais distintos). "A fórmula do Big brother foi explorada à exaustão. A partir de 2015, as mídias entraram em um processo de revolução. O cotidiano das pessoas está circulando em outras esferas. Existiram alguns testes de celebridades digitais no BBB antes, mas agora isso se transformou numa grande contenção da edição. A Globo se apropriou do que está acontecendo nas redes, seja pelas pautas ou pelos participantes."

"A maioria dos influenciadores não age como as celebridades que nasceram dentro da TV ou do cinema", dis Holzbach. "Na internet, essas pessoas falam para seus seguidores, que geralmente compartilham as mesmas visões de mundo e podem aceitar opiniões fortes ou politicamente incorretas. Quando influenciadores são colocados dentro da maior emissora da América Latina, existe uma imprevisibilidade muito grande do que pode acontecer. São limites perigosos de romper dentro da TV hegemônica. O que elas fazem e falam tomam proporções gigantescas".

As estratégias da Globo surtiram efeito. O primeiro mês de exibição teve aumento de 10% de audiência em comparação ao mesmo período da edição anterior. O BBB 20 já arrecadou R$ 255 milhões em publicidade, um recorde na história do reality. Pelos números, o objetivo é que o “grande irmão” - termo imortalizado pela obra de George Orwell - se perpetue por muitos anos.
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