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CULTURA

Festival de Cinema de Triunfo marcado pela resistência

Publicado em: 12/08/2019 18:46 | Atualizado em: 12/08/2019 18:54

Um dos homenageados do evento, o diretor Kleber Mendonça Filho enalteceu atitude do grupo das típicas "veinhas". Crédito: Jan Ribeiro/Secult-PE

Triunfo - Em uma cidade com pouco mais de 15 mil habitantes, no topo de uma serra a mais de mil metros do nível do mar, profissionais da sétima arte e entusiastas de várias localidades do país se reúnem anualmente para fazer, debater, exibir... respirar cinema. Num tempo de política de desmonte da cultura, de ameaças de extinção e censura velada contra a Ancine e medidas obscuras do Governo Bolsonaro contra a classe artística, o Festival de Cinema de Triunfo é resistência. E o “bunker” é o Cineteatro Guarany.

A 12ª edição teve seis dias de ações frutíferas e representativas, do dia 5 até o último sábado, quando foram anunciados os vencedores da mostra competitiva. Desyrrê, mulher trans, negra e moradora de Triunfo, subiu mais de uma vez ao palco para buscar troféu pelo documentário homônimo no qual é protagonista. Teve prêmio para NEGRUM3, de Diego Paulino, obra com um mergulho na caminhada de jovens negros em São Paulo. Teve protagonismo para Graciela Guarani e o seu Opára: Morada dos nossos ancestrais, sobre a luta indígena. 

Kleber Mendonça Filho, diretor dos longas O som ao redor, Aquarius e Bacurau (vencedor em Cannes), foi - junto com a atriz pernambucana Lívia Falcão - um dos homenageados do evento e externou um pouco do sentimento de estar ali presente. “É um momento que eu não esperava estar vivendo no Brasil. Quando cheguei hoje à noite, fui recebido por um grupo das ‘veinhas’ (personagens típicas de Triunfo, assim como os caretas), elas estão segurando uma placa de Marielle Franco e não há nenhum xingamento, retaliação ou mal-estar. É simplesmente uma expressão livre de um sentimento. Pode ser uma coisa pequena, mas é muito significativa pra mim. Eu viajo bastante e me sinto ainda muito protegido aqui em Pernambuco. É um sentimento especial num Brasil que tem sido muito feio”, declarou.

A vice-governadora do estado, Luciana Santos, foi ainda mais mordaz. “O governo (federal) tem se caracterizado como autoritário e que precisa do obscurantismo. A cultura é justamente onde há a possibilidade de pensamento livre e crítico. Mas aqui em Pernambuco estamos dizendo ‘não’. É um estado de vanguarda, que sempre garantiu que ícones da cultura falassem para o mundo.”

Desyrrê conquistou prêmios por obra sobre a sua vida. Crédito: Jan Ribeiro/Secult-PE

MOSTRA COMPETITIVA
Nas mostras competitivas, 33 filmes exibidos no Cineteatro Guarany concorreram ao Troféu Caretas e a premiações em dinheiro. O vencedor da categoria Melhor Curta-Metragem Nacional foi Guaxuma (PE), de Nara Normande, uma fábula autobiográfica da autora. O prêmio de Melhor Longa-Metragem foi para Madrigal para um poeta vivo (SP), de Adriana Barbosa e Bruno Melo Castanho, sobre a incrível história do “escritor-coveiro” Tico Rovida.

Mas o festival foi muito além da premiação. Os debates matinais na Praça do Avião foram marcantes, e o público teve vez e voz para debater com a equipe do filme exibido na noite anterior. Ocorreram seminários sobre temas como a regionalização do audiovisual. A Mostra Absurda abriu uma janela para filmes nordestinos não-realistas. A Mostra Ambiental e as sessões exibidas na vizinha Serra Talhada foram outros trunfos. Mas talvez o maior deles tenha sido a presença efetiva de estudantes de 19 escolas da região. Eles participaram de oficinas, com aulas sobre a arte de fazer cinema, e produziram conteúdo, exibido no Guarany.

Realizado pela Secretaria de Cultura e Fundarpe, o 12º Festival de Cinema de Triunfo recebeu cerca de três mil pessoas, segundo a organização. No próximo ano, mesmo com a iminente crise do setor audiovisual, a expectativa é de mais produções e público na cidade do Pajeú. Afinal, a arte sempre resiste. E triunfa.

* O repórter viajou a convite da Secult-PE e Fundarpe
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