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Reinventando certezas

Por Sérgio Xavier* 

Imaginamos que as certezas absolutas nos fazem avançar. Engano. O que nos faz evoluir são as incertezas. É a dúvida, somada com a vontade de aprender, que nos faz buscar conhecimentos e nos aproximar de novas descobertas, ultrapassando fronteiras. É a ousadia de olhar além que abre nossas percepções e nos premia com experiências inéditas.  

Então, o que dizer das certezas fanáticas? Se até o conhecimento científico deve ser continuamente questionado e aperfeiçoado, imagine os mitos e ignorâncias, com as suas subjetividades manipuláveis. Estas, com pouquíssima incerteza, arrastam a humanidade para a vala do atraso.

Quanto maior o conhecimento e a consistência das informações que absorvemos, maior a qualidade das incertezas. Ou seja, mais elevado será o nível de reflexão, inovação e descobertas. 

Por outro lado, quanto mais desconhecimento, fanatismo e ignorância, menor o nível de avaliação crítica da realidade e mais rasteira a capacidade de inovar, crescer e prosperar. 

Logo, uma sociedade sufocada por preconceitos, radicalismos, pensamentos mesquinhos e mentiras fica presa no fosso do obscurantismo. 

Sem certezas absolutas e diante de um mundo cada dia mais complexo, como navegar a vida com alguma segurança? 

A resposta é abrir-se para o máximo de conhecimento confiável e apreciar, sem ódio e sem medo, a diversidade de pensamento que nos cerca. É a abertura para novas interações que possibilita descobrir oportunidades. Não agregamos muita sabedoria com os iguais a nós. Sobretudo, com aqueles de pensamentos presos no passado. Só nos enriquecemos quando somamos diferenças e novidades. E é o conjunto de todas as discordâncias que nos aproxima de uma verdade mais equilibrada e nos muda de patamar.    

Em outras palavras, é ampliando percepções que construímos modelos de vida mais evoluídos, onde as certezas ficam mais realistas e as incertezas são encaradas como propulsoras de progresso. Por isso, cercear arte, censurar cinema e atacar artistas atrevidos é coisa de gente que tem medo do futuro. 

Na noite desta segunda-feira (22) assisti à cerimônia de formatura dos cursos de Direito, Ciências Biológicas, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia da Universidade Católica de Pernambuco – Unicap. 

Celebramos a alegria de jovens profissionais, que chegam cheios de vitalidade e sonhos ao desafiador (e incerto) mercado de trabalho contemporâneo. Entre eles, o meu filho Rodrigo Xavier, concluinte de Direito, que já ingressou na área jurídica ambiental. 

Junto com o outro filho, Henrique, formado em Produção Musical (Universidade Anhembi - SP) e integrante da novíssima banda Sage Act (@sageact), ouvimos atentamente o discurso do reitor, padre Pedro Rubens Ferreira Oliveira, que falou, de forma didática e motivadora, sobre certezas e incertezas do mundo atual. 

Ressaltou três grandes incertezas: (1) as guerras (econômicas, sociais, digitais, militares...) com potencial de destruição global, que estão sempre sendo tramadas em algum lugar; (2) a degradação ambiental, que põe em risco a vida na Terra e (3) as aceleradas transformações no universo do trabalho, que geram inúmeras dúvidas e riscos para profissionais iniciantes ou experientes (precarização de direitos, robotização, desemprego e disrupções velozes são alguns aspectos das incertezas). 

Em contraponto a este cenário desafiador, o reitor indicou a palavra-chave de superação: conhecimento. Sim, o caminho da prosperidade profissional e pessoal para qualquer humano nesta teia de complexidades intercruzadas em que vivemos é mapear incertezas e buscar o conhecimento adequado para vencê-las, continuamente.   

Enxergar incertezas e revisar certezas (pessoais e coletivas) exige, além de conhecimento, capacidade crítica. Certeza tem relação direta com confiança. Por isso, quanto mais desconfiança, mais incerteza. Esta é uma das raízes da crise política e econômica do Brasil atual. Baixa confiança nas lideranças políticas, muito desconhecimento, ausência de projetos para solucionar problemas graves (como desemprego e desigualdade) e pouca capacidade de diálogo civilizado está fomentando um ambiente de alta incerteza.     

Certezas e incertezas ocupam intensamente as nossas mentes desde os princípios da civilização. Quanto mais avançam a ciência e as percepções humanas, mais surgem novas incertezas e diminui o tempo de validade das certezas. É por isso que precisamos checar e reinventar nossas certezas todos os dias. 

* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.

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