MEIO AMBIENTE
Dia do Meio Ambiente: Relatório dos Indicadores de Alterações Climáticas Globais faz alerta
Aquecimento causado por mudanças climáticas antropogênicas, ou seja, aquelas provocadas pelo homem, atingiu uma média de 1,19 graus somente na última década
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 05/06/2024 13:34
Se for considerado apenas o ano de 2023, o aquecimento causado apenas pela atividade humana foi de 1,3 graus (Foto: Freepik) |
Nesta quarta-feira, que assinala a data do Dia Mundial do Meio Ambiente, os dados divulgados do segundo relatório anual dos Indicadores de Alterações Climáticas Globais, mostram que se for considerado apenas o ano de 2023, o aquecimento causado apenas pela atividade humana foi de 1,3 graus.
Os autores do documento destacam que o aquecimento causado pelas mudanças climáticas antropogênicas, ou seja, aquelas provocadas pelo homem, atingiu uma média de 1,19 graus somente na última década (2014-2023) acima dos níveis pré-industriais, o que aponta um aumento num ritmo sem precedentes, atingindo aproximadamente 0,26 graus por década.
O estudo apresentado no relatório foi liderado pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, com a coordenação do investigador britânico Piers Foster e formado por um grupo internacional de mais de 50 cientistas, foi publicado pela Earth System Science Data, e afirma que o aquecimento global de 1,19 graus representa uma elevação em relação aos 1,14 graus notificados em 2013-2022 e que estava presente no primeiro relatório.
A causa dessa taxa elevada é uma combinação entre o nível constantemente alto de emissões de gases de efeito estufa, dentre eles, os procedentes dos automóveis, das indústrias e usinas termoelétricas, que equivalem a 53.000 milhões de toneladas de CO2 por ano no período analisado, além de outro conjunto de fatores associados, tais como, queimadas, desmatamento e decomposição de lixo. O relatório ainda indica que os elevados níveis de emissões de gases com efeito de estufa também afetam o equilíbrio energético da Terra, uma vez que as bóias oceânicas e os satélites registram fluxos térmicos sem precedentes nos oceanos, nas massas glaciais, nos solos e na atmosfera do planeta. “Este fluxo térmico é 50% superior à média de longo prazo”, diz o comunicado da Universidade de Leeds.
A análise foi projetada para acompanhar tendências de longo prazo geradas pelas atividades humanas e as temperaturas observadas são o produto desta tendência de longo prazo modulada por variações naturais de curto prazo. “Considerando 2023 isoladamente, o aquecimento causado pela atividade humana atingiu 1,3 graus, um valor inferior ao aquecimento total desse ano (1,43 graus), indicando que a variabilidade natural do clima, em particular o fenômeno El Niño, desempenhou um papel nas temperaturas recordes”, apontam os autores.
A análise do relatório, além disso, apresenta que o orçamento de carbono restante (o dióxido de carbono que pode ser emitido antes que o aquecimento global de 1,5°C seja inevitável) é de apenas cerca de 200 gigatoneladas, o equivalente a aproximadamente cinco anos de emissões nos níveis atuais. “As emissões de combustíveis fósseis representam cerca de 70% de todas as emissões de gases com efeito de estufa e são "claramente o principal motor das alterações climáticas", assegura Foster.
No entanto, outras fontes de poluição provenientes da produção de cimento, da agricultura e do desmatamento, assim como as reduções no nível de emissões de enxofre, contribuem para o aquecimento. “Uma rápida diminuição das emissões de gases com efeito de estufa até atingir o zero servirá para limitar o grau de aquecimento global que será sentido, mas, além disso, as sociedades precisam ser mais capazes de resistir à adversidade", salienta Foster.
Apelo da ONU
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu hoje aos países que cumpram os compromissos de recuperação de ecossistemas e terrenos degradados, e a agirem para travar e inverter o desmatamento até 2030.
"Temos de aumentar drasticamente o financiamento para apoiar os países em desenvolvimento a se adaptarem às condições climáticas violentas, protegerem a natureza e apoiarem o desenvolvimento sustentável. A humanidade depende dos solos, mas em todo o mundo um coquetel tóxico de poluição, caos climático e dizimação da biodiversidade estão transformando terras saudáveis em desertos e ecossistemas prósperos em zonas mortas. Com as colheitas a falhar, as fontes de água desaparecendo, as economias enfraquecidas e comunidades em perigo, a população do planeta está presa num ciclo mortal e é hora de se libertar. A inação é demasiado dispendiosa e cada dólar investido na recuperação de ecossistemas gera até trinta dólares em benefícios econômicos, alertou Guterres.
Segundo os dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 40% das terras do mundo já estão degradadas, 3,2 bilhões de pessoas sofrem com a desertificação e três quartos da população devem ser afetados por secas até 2050. A PNUMA afirma que a restauração dessas terras aumenta o armazenamento de carbono e retarda as alterações climáticas e, que restaurar apenas 15% poderia evitar, estima, até 60% das extinções de espécies ameaçadas.
No último relatório do PNUMA sobre o ambiente, a diretora da instituição, Inger Andersen, declarou que a grande tarefa mundial é acelerar os progressos na luta contra a tripla crise planetária, isto é, as alterações climáticas, perda de biodiversidade, e poluição e resíduos. “Salvar o solo, a origem de 95% dos alimentos, é outra solução, que passa por apoios a uma agricultura biológica. E outra é proteger os polinizadores, porque três em cada quatro culturas que produzem frutos e sementes dependem deles. Reduzir a poluição atmosférica e minimizar impacto de pesticidas e fertilizantes é fundamental”, explicou Andersen.
A ONU ainda insta a restauração dos ecossistemas de água doce, a renovação das zonas costeiras e marinhas e levar a natureza de volta às cidades, que consomem 75% dos recursos do planeta, produzem mais de metade dos resíduos globais e geram 60% dos gases com efeito de estufa.
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