Segundo o psiquiatra Cristiano Noto, da Escola Paulista de Medicina da Universidade de São Paulo (Unifesp), o isolamento social pode ser um gatilho para quem tem a doença. “Ninguém se torna portador de esquizofrenia por conta da pandemia. Mas, seguramente, uma situação de estresse social pode contribuir [para uma crise]”.
Segundo Noto, a esquizofrenia tem várias causas. A principal delas é o fator genético, embora fatores ambientais contribuam também para o desenvolvimento da doença, que enfrenta ainda muito preconceito. Frases do tipo “essa política é para esquizofrênicos”, por exemplo, mostram como a doença é enxergada com muito estigma em relação aos pacientes, citou o psiquiatra da Unifesp.
Tratamento multidisciplinar
O especialista indicou que como qualquer transtorno mental, a esquizofrenia traz muito sofrimento ao paciente. Por isso, é comum que essas pessoas acabem, em situações extremas, como em tentativa de suicídio.
Dependendo de como é feito o tratamento, a pessoa com esquizofrenia pode ter uma vida normal e, inclusive, casar e ter filhos. “Se ela está fazendo o tratamento, está bem, está estável, tem total condição de ter uma vida normal. Trabalhar, constituir família. Não tem nenhuma contra-indicação em relação a isso. Muito pelo contrário. A gente sempre estimula que os pacientes tenham uma vida produtiva, uma vida construtiva”, disse Noto.
O psiquiatra admitiu, por outro lado, que alguns pacientes não conseguem atingir isso, seja porque não fazem tratamento de forma adequada, seja porque os casos deles são mais severos. Observou, entretanto, que “em regra, sim, eles podem ter uma vida normal”.
A doença costuma mostrar os primeiros sintomas no final da adolescência e começo da vida adulta, manifestando-se nos homens a partir dos 18 anos de idade e, nas mulheres, a partir dos 25 anos.
O professor da Unifesp recomendou às famílias que tenham parentes com esquizofrenia que busquem ajuda e tratamento e sempre estimulem seus familiares a continuar o tratamento e o processo de melhora que, muitas vezes, pode ser longo. “Se a pessoa tem crises, ela vai conseguindo as conquistas passo a passo. Por isso, é muito importante a família para suportar e ajudar essas pessoas a irem adiante”.
A participação do paciente em atividades de lazer ou mesmo rotineiras deve ser estimulada, de modo a abandonar os sintomas negativos que o impelem a deixar de fazer as coisas. “Quanto mais a gente estimular ela para tudo, para esporte, lazer, estudo, trabalho, quanto mais ela conseguir fazer, melhor, mais vai ajudá-la na doença”.
Segundo Jaber, a doença está cada vez mais ligada ao uso de bebidas alcoólicas, e de substâncias ilícitas, como as drogas vendidas irregularmente no país. Da mesma forma que afirmou Cristiano Noto, o psiquiatra da PUC-RJ disse que a esquizofrenia resulta de transmissão genética, hereditária, e é acompanhada pelo surgimento de outras doenças, como obesidade, diabetes, problemas clínicos gerais. “Porque esses pacientes, em virtude da doença básica, perdem a capacidade de cuidar deles mesmos”.
A notícia boa, segundo Jaber, é que a partir das últimas décadas do século passado surgiram medicamentos melhores que podem atingir evolução no século atual de grande eficácia na manutenção da normalidade desses pacientes. “Então, hoje em dia, é possível tratar uma pessoa com esquizofrenia com evolução excepcional”. Jaber destacou, porém, a necessidade de haver serviços de internação emergencial para períodos em que o paciente tenha alguma piora ou crise. “Em duas ou três semanas, pode voltar à vida completamente normal, sempre que mantiver o tratamento ambulatorial, em consultório”.