Após recuo entre 2013 e 2017, o índice de rejeição avança continuamente desde junho daquele ano.
Por outro lado, recuou de 34% para 31% a parcela dos que assentem com a frase "possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender".
O levantamento do Datafolha ouviu 2.086 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
As entrevistas foram feitas pouco mais de uma semana após a gestão Bolsonaro revogar os decretos sobre armas que havia editado anteriormente e de publicar outros três, além de anunciar um projeto de lei com tramitação em regime de urgência para facilitar o porte de armas, ou seja, a possibilidade de o cidadão levá-las consigo.
Entre os textos revogados, está o que autorizava o porte de arma para uma extensa lista de categorias profissionais, de advogados a caminhoneiros e jornalistas que participam de cobertura policial, por exemplo.
Foram mantidos, por sua vez, pontos como o aumento da potência das armas liberadas, o que, segundo críticos, abre brecha para que cidadãos tenham artefatos de uso restrito da polícia.
A norma em vigor permite ainda que atiradores profissionais possam ter até 60 armas, e colecionadores, 10.
Em acordo feito com o Legislativo, o governo Bolsonaro ficou de enviar um projeto de lei em regime de urgência para facilitar o porte de armas, e o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), comprometeu-se a colocar o texto em votação em agosto.
A tramitação por meio de projeto de lei serve para contornar questionamentos jurídicos sobre a possibilidade de uma mudança como essa na legislação ser feita por meio de decreto.
A proposta, porém, além de ser rejeitada por 70% da população, é reprovada pela maioria dos segmentos ouvidos na pesquisa Datafolha.
As exceções são as pessoas que têm como preferência partidária o PSL (72% são a favor do projeto), partido do presidente, os que se declaram empresários (55%) e os entrevistados que avaliam o governo como ótimo ou bom (52%).
Entre os que afirmam ter votado em Bolsonaro na eleição de 2018, há empate técnico: 47% se dizem a favor, e 50%, contra.
Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, esse resultado é coerente com levantamentos feitos no final do ano passado, que já apontavam um descolamento entre a agenda de Bolsonaro e a opinião pública.
Pesquisas feitas na época mostraram que pontos chave da pauta do então presidente eleito, como o Escola sem Partido, a posse de armas e aproximação com o governo dos Estados Unidos eram rejeitados pela maioria da população.
A explicação para essa disparidade, que se reflete novamente na pesquisa Datafolha, está na complexidade dos fatores que levam o eleitor a decidir o seu candidato.
"Nem todos os que votaram em Bolsonaro o fizeram pelas propostas e pela postura", afirma Paulino. "O voto foi em grande medida para derrotar um projeto político que deixou de agradar a população."
De forma coerente com o resultado eleitoral, a pesquisa Datafolha aponta ainda que o índice de pessoas favoráveis ao projeto que facilita o porte de armas é relativamente maior no Sul, alcançando 38%, ante 23% no Nordeste, região que mais rejeita a medida -e também a única em que Fernando Haddad (PT) obteve mais votos que Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018.
Não há diferença entre os índices dos que moram em regiões metropolitanas e os que vivem no interior.
A rejeição à facilitação do porte de armas também é maior entre mulheres (78%), pretos (74%), pardos (72%) e indígenas (82%) e ainda entre os mais pobres.
No segmento dos entrevistados com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, 75% são contra o projeto. No de dez salários mínimos, o índice cai para 51%.
Considerando-se a idade, a reprovação à facilitação do porte de arma fica entre 70% e 72% entre todas as faixas etárias, mas é menor na de 25 a 34 anos (63%).
Entre religiões, a rejeição à proposta é maior entre os evangélicos neopentecostais (76%), um dos grupos mais cortejados politicamente pelo presidente. Em seguida, vêm espíritas (75%) e adeptos de religiões afrobrasileiras. Como a amostra de entrevistados é menor nesses casos, os números devem ser lidos como tendência, diz Paulino.