A rotina da menina de 8 anos começa a se parecer com a de qualquer garota da idade dela. Gosta de andar de bicicleta na rua, além de brincar com os pintinhos e o cachorro de estimação. Agora, quer um gato. “Disse que não dá para termos todos os animais, ou vamos ter que mudar para uma fazenda”, brinca o pai, de 29 anos.
A garota mora com o pai e a madrasta, de 27 anos, em uma casa na capital acreana, Rio Branco, desde 15 de junho. O Conselho Tutelar da cidade acompanha a família.
Recentemente, conseguiu uma vaga para a menina em uma escola da rede pública. As aulas começam em agosto. Uma prova definirá se ela estudará no 3º ou 4º ano.
De acordo com a conselheira tutelar Valdisa Mendes da Costa Silva, responsável pelo acompanhamento do caso, não há registros da menina em nenhuma escola do país. “No entanto, ela nos disse que começou a cursar o 3º ano quando morou em Maceió. Então, achamos importante ela passar pelos testes na escola para descobrir com qual série ela é compatível”, explica.
Blindagem
Para o pai, o afastamento da filha do colégio por quatro anos não influenciou no crescimento intelectual dela. “Ela é muito inteligente, apaixonada pela leitura e escrita. O interesse dela a ajudou a não ficar para trás. Desde que falamos da escola, minha filha ficou muito animada”, relata o pai.
O sonho de retomar os estudos vem acompanhado da profissão que a criança pretende seguir. Ao contar para a família que deseja construir prédios quando crescer, descobriu o nome da carreira: “Expliquei que o caminho é ela se tornar uma engenheira civil, e ela adorou a ideia.”
Bicharada
Como a menina não pode ter outros bichos, se contenta em ver as mais variadas espécies pela televisão. “Minha filha não é muito apegada à TV, o que me deixa muito feliz. Mas, quando ela vai escolher o canal, sempre é de animais. Ela assiste a documentários, pois, assim, descobre sobre eles e a rotina que levam”, detalha o pai.
Quando se trata de leitura, o interesse dela é por gibis. “Ela gosta da Turma da Mônica, mas posso afirmar que, tudo o que se trata sobre gatos, a minha filha está lendo. Os felinos são a grande paixão dela. Ela tem um gosto grande pela leitura”, destaca o pai.
Criança sente falta da mãe
“Por causa da alienação parental que a minha filha sofreu, foi muito difícil nos primeiros dias me aproximar dela. Mas, aos poucos, ela começou a se aproximar. Mas, graças a Deus, ela tem uma ótima relação com a minha esposa, que tem ajudado muito nisso”, destaca o pai.
De acordo com a conselheira tutelar Valdisa Mendes da Costa Silva, a instituição deixou a menina se adaptar à família. “Notamos, na primeira visita, que ela fica um pouco desconfiada. Acho que isso ocorre por ela ter tido contato frequente com conselheiros e psicólogos no DF”, observa. “Por isso, o melhor nesta primeira fase é se adaptar ao pai. Ela tem uma ótima relação com a madrasta, que é muito atenciosa. Percebemos que um pouco do afastamento paterno se deve, sim, à criação recebida da mãe e da antiga madrasta”, pondera a conselheira.
Hoje, Valdisa Silva vai entregar o encaminhamento da criança a um psicólogo, no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) do estado. “Como ela passou uma experiência extremamente traumática, ela precisa desse acompanhamento. Isso ajudará a menina a conseguir falar sobre o irmão e a entender as nuances de tudo o que passou. Será um dia de cada vez”, acrescenta.
A menina compreende como o assassinato do irmão de criação ocorreu e sobre a prisão da mãe, Kacyla e Rosana. Ainda assim, ela sente saudades da mãe e pergunta sobre quando poderá revê-la.
“Tem dias que ela senta comigo e pergunta se um dia vai poder ver a mãe de novo. Digo que ela vai passar um bom tempo presa, mas que elas vão se ver. Mas é claro que não temos nenhuma intenção de deixar que a minha filha tenha um convívio com a mãe dela novamente. Só esperamos ela ter idade suficiente para explicarmos tudo, inclusive, o motivo da decisão”, explica o pai.