DESPEDIDA

Corpo de João Gilberto é velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Publicado em: 08/07/2019 10:19

Ari Versiani/AFP
A excentricidade e a mania de isolamento contribuíram para o mistério em torno da morte de João Gilberto, anunciada no sábado pelo filho João Marcelo Gilberto, que mora nos Estados Unidos. A notícia foi dada pelo Facebook, por volta das 15h. Às 18h, Bebel Gilberto se pronunciou em nota pela mesma rede social confirmando a partida do pai. Ela veio ontem dos Estados Unidos, onde estava em turnê. Ele, que mora em Nova Jersey, não poderá vir, pois, segundo declarações do advogado de João Gilberto a dois jornais, está em processo de renovação do Greencard e não pode deixar o país.

O velório será hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e deve ser aberto ao público entre 9h e 14h. Pouco se soube de João Gilberto nos últimos anos, a não ser por algumas raras fotos publicadas em redes sociais pelo filho, João Marcelo, e pela nora, Adriana Magalhães, que controlam também uma página em nome da neta, Sofia, de 3 anos. Foi lá, na página da menina, que o cantor apareceu de mãos dadas com a companheira Maria do Céu Harris, moçambicana de 55 anos. João teria morrido de mãos dadas com ela, segundo declarações do advogado Gustavo Miranda ao jornal O Globo.

Nos últimos anos, o nome de João Gilberto tem aparecido mais em notícias sobre disputas judiciais do que nas páginas dedicadas à cultura. Se os últimos shows foram em 2008, capítulos judiciais são bem mais recentes. Contrariando toda a leva de mitos em torno de si, João Gilberto voltou a ser assunto midiático nos últimos anos. Não foi só o vinho, de origem portuguesa, saboreado no restaurante carioca Mariu´s (Leme), acompanhando frutos do mar, quatro dias antes da morte, que causou estranheza pela rara exposição do músico, num jantar moldado por cenário íntimo.

Vinda de Lisboa, em 1984, Maria do Céu esteve na companhia do músico, ao lado do advogado Gustavo Carvalho Miranda, a quem, no comunicado inicial da morte do pai, o filho João Marcelo fez questão de agradecer. Miranda assumiu, recentemente, parte que diz muito do imbróglio familiar no qual  estão envolvidos os parentes próximos de João Gilberto: os processos judiciais que cercam direitos autorais do material produzido pelo mito.

Ainda com um pedido de respeito à privacidade — feito com rigor e objetividade, por meio das redes sociais —, João Marcelo (filho de Astrud, e meio-irmão da cantora Bebel Gilberto, filha de Miúcha) comentou com agressividade as especulações e as curiosidades geradas nos fãs do músico. Em post nas redes sociais, ele externou a preocupação com o movimento de “abutres” que teriam “baixado” no apartamento do pai dele. Na postagem, pediu respeito, e adiantou que não serão feitos “shows” e que, respeitando a vontade do pai, o velório não seria em “caixão aberto”. Além disso, atacou com dureza pessoas que façam críticas ao comportamento de familiares de João Gilberto.

Em entrevista a Mônica Bergamo, no final de junho, a ex-mulher de João Gilberto, Claudia Faissol, mãe de sua terceira filha, Luísa, de 15 anos, disse que as brigas ainda matariam o músico. E as brigas foram muitas. Este ano, Bebel Gilberto teve referendada a curatela do pai, com o objetivo de assegurar sua segurança e zelar pela recuperação das condições financeiras do músico (que inclusive teve que deixar o apartamento tradicionalmente ocupado no Leblon). O irmão, João Marcelo, teria se sentido alijado do processo e chegou a acusá-la de roubar o pai, o que gerou medidas judiciais por parte da cantgora. Agora, outro flanco da família começa a tornar público problemas associados à herança de João Gilberto, que teria manifestado desejo de não ver a namorada, Maria do Céu, desamparada. Ela também já foi alvo de críticas por parte de Bebel e de Claudia Faissol, que teriam sido barradas ao tentar entrar no apartamento do cantor.

Segundo relato de João Marcelo, o pai teria morrido em companhia de um amigo identificado como Rubens, de uma fiel cuidadora, chamada Ana, e de Maria do Céu Harris. Certo é que a pecha de uma vida reservada, aos moldes de um monge tibetano, à qual o escritor Ruy Castro fez menção no livro Chega de saudade: A história e as histórias da bossa nova (1990), se tornou digna de revisão.
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