O vídeo no qual um grupo de brasileiros assedia uma mulher estrangeira, na Rússia, e se aproveita do seu desconhecimento da língua portuguesa para constrangê-la gerou repercussões negativas entre entidades defensoras das mulheres. Segundo Maria Dolores Fastoso, integrante da coordenação do Fórum de Mulheres de Pernambuco, “o machismo revolta e surpreende a cada dia”. Para ela, as imagens chocaram ainda mais por envolver o advogado Diego Jatobá, ex-secretário de Turismo de Ipojuca, que foi representante do trade turístico. “A opressão é parte da vida das mulheres e nos atinge em todas as dimensões da nossa existência: econômica, cultural, política e social. A violência está em todos os lugares e é um problema meu, seu, nosso, e de toda a sociedade! Somos nós, mulheres, que vivenciamos a violência tanto física quanto psicológica que precisamos tomar consciência, e denunciar todo ato de violência. Denunciar é necessário. Tudo aquilo que calamos, tende a se repetir”, declarou.
Para a psicóloga e doutora em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, Ana Paula Portella, o vídeo é um caso de violência “misógina”, uma vez que o grupo de brasileiros comete um abuso duplo, porque a humilham a jovem e divulgam o caso na internet. “É um abuso grave, sobretudo porque é feito coletivamente, são muitos homens contra uma única mulher. Eles sabem que ela não está entendendo e fazem de propósito para expô-la ao ridículo. Isso é uma agressão muito grave”, analisou, dizendo ser necessário reforçar políticas públicas para o combate à violência contra a mulher e adotar um conjunto de atitudes na educação das crianças, que envolva igualdade e respeito.
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, Simone Santana (PSB), também fez um discurso contra a postura do advogado na tribuna da Assembleia. Ela também foi eleita deputada pelo município de Ipojuca e disse ter sido convocada para se pronunciar. “Trouxemos um voto de protesto e de repúdio. Esse é um bom momento para fazer a reflexão do quanto esse discurso de misoginia é ridículo. Esse foi um instrumento que humilharam a menosprezaram a mulher, feriram sua dignidade. É importante que os homens pensem: ‘E se fosse sua filha? Sua irmã, sua esposa estando naquela situação totalmente desprotegida?’
Até ontem à noite, às 21h30, o aplicativo “mete a colher”, que visa conectar as mulheres e ajudá-las a sair de relações abusivas, teve 8.836 visualizações do vídeo onde a estrangeira é constrangida, sem saber, por não conhecer a língua portuguesa. “O torcedor brasileiro está longe de respeitar a mulher no quesito futebol (...) Estamos longe de conquistar qualquer campeonato quando não conseguimos sequer ser respeitosos com uma mulher”, escreveu. O advogado Diego Valença Jatobá não foi localizado para falar sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
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