Brasil

Projetos transformam crianças em tratamento médico em super-heróis da vida real

Inspirados em projeto de italiano, centro de equoterapia e hospital oferecem ensaio fotográfico com fantasias favoritas a crianças que enfrentam deficiências e o câncer

A pequena Emanuele Vitória, em pose com Fábiola Alves, Juliana Starling e a sargento Nayana no Cercat: dia de princesa. Foto: Jair Amaral/EM/DA Press

A iniciativa da Associação Feminina de Assistência Social e Cultura (Afas), entidade ligada à Polícia Militar, foi inspirada em projeto do fotógrafo italiano Josh Rossi, nos Estados Unidos. Ele transformou, num ensaio fotográfico, cinco crianças portadoras de doenças graves ou deficientes em super-heróis da Liga da Justiça. Mas a surpresa ainda estava por vir: cada uma delas ganhou um quadro com seu retrato estilizado. A ideia em BH é fazer o mesmo. Os praticantes da equoterapia já começaram a ser fotografados. E, na festa de Natal, em dezembro, ganharão os quadros com uma bela montagem em 3D.

O projeto precisa arrecadar R$ 6 mil. Por aqui, voluntários estão ajudando o sonho a se tornar realidade, do fotógrafo à casa de festas que emprestou as fantasias. Cada um pôde escolher qual e que tipo de herói queria ser. E tem de tudo, dos clássicos dos quadrinhos a policial e jogador de futebol. As meninas preferiram as princesas do momento e as de antigamente, como Ana e Elza, Cinderela e Branca de Neve. A presidente da Afas, major Fátima Rufino, conta que quando viu o vídeo de Josh Rossi pensou imediatamente nos meninos da equoterapia. “Do grupo, 99% são muito carentes e, por isso, estamos sempre pensando em algo para amenizar essa luta. O mais caro seria um fotógrafo. Liguei para um amigo e ele topou”, relata.

O dinheiro arrecadado será usado para ampliação de fotos e molduras e para pagar a lavagem das fantasias, cedidas pela Casa do Sol. Alguns dos praticantes ficarão nas próprias cadeiras, outros estão sendo fotografados sentados num banquinho. A logística é toda coordenada no momento das fotos e observadas as características e necessidades de cada herói. “Essas crianças já lidam com perda. Já nasceram com a perda de um movimento, têm alguma parte do corpo que não funciona. Então, qualquer ação que fazemos pra amenizar um pouco, uma manhã diferente, arrumar o cabelo, uma maquiagem, é uma forma de abrandar o coração deles. São só problemas para eles e os familiares, uma situação dessa permite perceberem que há alguém pensando neles e que tem carinho por eles”, afirma major Fátima.  
 
COWBOY Atualmente, 102 crianças, adolescentes e adultos são atendidos. O Cercat é o único lugar na Grande BH a oferecer a equoterapia gratuitamente. Ele atende pacientes com 37 patologias, como paralisias, autismo, síndrome de down, hiperatividade e problemas de equilíbrio. Uma delas é Emmily Almeida Corrêa, de 12 anos. A mãe dela, a dona de casa Marlene de Almeida Queiroz Corrêa, de 47, viu a filha se transformar em um cowboy. A escolha foi em razão de sua paixão pelos cavalos. Diagnosticada com paralisia cerebral na idade de 1 ano, começou a fazer equoterapia em outra instituição quando tinha 3. Na fila do Cercat, foram quatro anos e, há um e meio, conseguiu atendimento. “A Emmily não sentava, pois não tinha o equilíbrio do tronco. Assim que começou a praticar o esporte, sentou”, lembra.

Para Marlene, o ensaio fotográfico foi um alento. “O sorriso dela conta tudo. Quando vestiu aquela roupa e passou a maquiagem ficou toda feliz. Enfrentamos uma luta muito grande, buscando apoio de todos os lados. A carinha feliz da minha filha significa diferença no tratamento, o que para nós é tudo, ver que ela agora faz algo que não fazia. Porque cada dia para gente é uma vitória.”
 
Dia de estreia e superação 

Quem vê o pequeno Davi Resende, de apenas 3 anos, correndo pelo salão nem imagina que ele acabava de receber alta. Do Hospital das Clínicas direto para o Museu Inimá de Paula, na Rua da Bahia, Centro de Belo Horizonte, o garotinho, diagnosticado com leucemia há quatro meses, era só animação, com sua fantasia de super-homem. Quis nem conversa, ao lado do irmão Isaac, de 9. “Ele estava desde sexta-feira internado para mediação. Ficou muito feliz de ser o super-homem. A iniciativa traz alegria, porque no dia a dia as crianças em tratamento ficam em casa ou no hospital”, afirma a mãe do menino, a técnica em contabilidade Aline Resende, de 38.

Turma do Hospital das Clínicas na pré-estreia da exposição fotográfica, que será aberta hoje ao público em geral no Museu Inimá de Paula. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press

Giulia Privitera, de 10 anos, escolheu ser a super-girl. Acometida por neuroblastoma há quatro anos, ela deu um exemplo de vivacidade ao lado do pai, Ângelo Privitera, de 53, e da mãe, Luzia Amorim, de 43. “Foi um momento especial para as crianças. Às vezes, por causa da doença, nos questionamos se somos bonitos ou feios. E as fotos trouxeram a certeza de que todos somos bonitos”, contou. “O tratamento é muito pesado e ela quer de volta a vida normal que tinha antes da doença”, diz Luzia. 
 
 
 
 

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