Editorial Manter o rumo

Publicado em: 13/06/2019 03:00 Atualizado em: 13/06/2019 10:09

Negociar é dar dois passos para a frente, um para trás e alguns para o lado. Trata-se de tarefa árdua, sobretudo quando estão envolvidos interesses divergentes. É o caso das articulações do Executivo com o Legislativo.

O presidente Jair Bolsonaro parece ter entendido a delicadeza do vai e vem que caracteriza o processo. Deputados e senadores receberam mandato popular para representar setores da sociedade e unidades da Federação. Querem ser ouvidos.

É pleito legítimo. O fazer política implica conversa, acertos, concessões — ceder aqui para que o outro ceda adiante. As idas e vindas costuram acordos que, bem conduzidos, contribuem para alcançar objetivos pelos quais a maioria anseia.

Exemplo de negociação madura se observou na aprovação, por unanimidade, do crédito emergencial de R$ 248,9 bilhões para o Executivo. O resultado só foi possível graças a entendimentos com a oposição e os partidos que compõem o centrão.

O governo se comprometeu a liberar parte dos recursos do Orçamento que estão contingenciados — R$ 1 bilhão para a educação, R$ 1 bilhão para o programa Minha Casa Minha Vida, R$ 550 milhões para obras do Rio São Francisco e R$ 330 milhões para bolsas de estudos do CNPq.

Com o aval do Congresso, manter-se-ão os pagamentos inadiáveis como aposentadorias, Bolsa Família, Plano Safra, Benefício de Prestação Continuada (BPC). O alívio veio em boa hora. Sem ele, a situação do país, já grave, receberia um impulso ladeira abaixo.

“A experiência é a mestra de todas as coisas”, ensinou César. O governo precisa agora percorrer o caminho aberto nas negociações da liberação do crédito suplementar para avançar nas reformas. O socorro ora recebido tem prazo de validade. Trata-se de aspirina em corpo que necessita de transplante.

Impõe-se investir nas reformas estruturais para que o país reconquiste a confiança e retome o rumo do desenvolvimento. Só o crescimento econômico é capaz de dar a resposta aos 13,2 milhões de desempregados que, somados aos subempregados e desalentados, beiram 30 milhões de pessoas — dois terços da população argentina. A cifra comove e preocupa os brasileiros. A ninguém interessa o recuo da indústria, a redução do consumo, o aumento da pobreza, a explosão da violência. Senadores, deputados e representantes do Executivo devem ter em mente os números aterradores ao sentar-se à mesa de negociações. Talvez, em nenhum momento, o país necessitou tanto de políticos que pensem na próxima geração.

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