Editorial Vacinas: a reeducação se impõe

Publicado em: 11/06/2019 03:00 Atualizado em: 11/06/2019 08:43

Causa preocupação o retrocesso que se observa no tocante à vacinação. Talvez mais que preocupação o sentimento seja de perplexidade. O Brasil foi citado pela Organização Mundial de Saúde como modelo na prevenção de doenças para as quais existe a possibilidade de imunização.

Tratadas como política de Estado, as campanhas chegaram aos mais remotos rincões do país e fizeram a sua parte. Graças à mobilização e à cobertura constante, enfermidades como poliomielite, sarampo, caxumba e catapora tornaram-se males do passado, cobertos pela poeira do tempo.

Aos poucos, porém, os pais deixaram de vacinar os filhos. Em 2018, por exemplo, o Brasil registrou mais de 10 mil casos de sarampo, concentrados sobretudo no Amazonas e em Roraima. Em consequência, perdeu o Certificado de Eliminação de Sarampo, concedido pela Organização Pan Americana de Saúde (Opas). Em 2019, já se contam 51 ocorrências.

Meningite é outro exemplo. Em 2018, dos 15.700 casos, 3 mil resultaram em morte. Vale lembrar que o sistema público de saúde, além de atendimento profissional, oferece a vacina gratuitamente. Mesmo assim, 20% dos menores não completam a imunização. Entre os adolescentes, o índice alcança 40%. Outras enfermidades seguem o mesmo script.

O assunto preocupa autoridades e especialistas. Três causas são apontadas para o fenômeno. Uma delas: a vacina paga o preço do próprio êxito. Gerações passadas conviveram com as mazelas. Viam, entre familiares, vizinhos ou conhecidos, vítimas das doenças — rostos marcados, crianças de muletas ou cadeira de rodas, enterros frequentes. Esse cenário desapareceu, o que levou ao relaxamento.

As fake news também respondem por boa parcela da culpa. Circulam pelas redes sociais — cada vez com mais intensidade — notícias de que vacinas, longe de curar ou prevenir, provocam autismo e outras enfermidades. Muitos acreditam e preferem não pôr em risco a saúde dos filhos. Em bom português: a informação falsa afugenta os responsáveis pela vida ou pela integridade física das crianças. Há, também, quem atribua a negligência à falta de tempo. Pais, que trabalham o dia inteiro, deixam para depois a ida aos postos. E o depois não chega.

Seja uma, seja a soma de duas ou das três razões, o fato é que a cobertura vacinal perde espaço. Medida, tão séria quanto a decisão de erradicar doenças capazes de ser prevenidas, precisa ser tomada. Ela passa, necessariamente, pela reeducação do povo.

Campanhas devem ser permanentes, claras e adequadas ao público-alvo. Escolas, igrejas, imprensa, clubes sociais, ONGs têm de ser convocados para colaborar. Mais: retomar a prática antiga mas eficiente de vacinação nas salas de aula é bem-vinda para o momento.

Como dizia velho político gaúcho, para vencer o diabo, convoquem-se todos os demônios. A nação continental que, com planejamento e determinação, soube perseguir a meta e erradicar males que aleijavam ou matavam suas crianças, conhece a receita. Impõe-se aviá-la.

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