Editorial À espera do corte de juros

Publicado em: 08/06/2019 03:00 Atualizado em: 10/06/2019 15:57

Boas notícias devem ser ressaltadas sempre. E a melhor delas, numa semana muito complicada, veio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de apenas 0,13% em maio, o menor resultado para o mês desde 2006. A inflação em baixa favorece, sobretudo, a população mais pobre, que vem sendo massacrada pelo baixo crescimento da economia. São os menos abastados as maiores vítimas do desemprego. Sem uma educação de qualidade, não conseguem se manter no mercado de trabalho.

O IPCA abaixo do esperado pelo mercado — a projeção média era de 0,20% — reforçou o debate sobre a possibilidade de o Banco Central voltar a cortar a taxa básica de juros (Selic), que está em 6,50% há mais de um ano. Alegam os defensores do afrouxo monetário que é preciso dar um estímulo a mais à atividade, que encolheu 0,2% nos primeiros três meses do ano e pode levar novo tombo entre abril e junho, reflexo da desconfiança dos agentes econômicos.

O pessimismo está tão grande em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que o Bradesco, o segundo banco privado do país, revisou novamente sua estimativa para o crescimento deste ano e, agora, prevê expansão de apenas 0,8%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconhece a fragilidade da atividade, mas ressalta que não cederá às pressões. Corretamente, afirma que não pode trocar aumento maior do PIB no curto prazo por mais inflação no futuro. A Selic só será reduzida num ambiente de segurança. Não se brinca com o custo de vida.

É compreensível que todos torçam por uma Selic menor. O Brasil sempre teve, ao longo de sua história, muitas aberrações, entre elas, os maiores juros do mundo. Isso inviabilizou uma série de negócios, estimulou o desemprego e ampliou a concentração de renda. Felizmente, políticas responsáveis durante vários governos permitiram que a inflação fosse sendo domada e, nos últimos anos, ficasse abaixo da meta perseguida pelo BC. Em consequência, convivemos com a menor Selic da história. É uma conquista da qual não se pode abrir mão. Toda vez que o país optou por aventuras na política monetária, a inflação subiu, a produção e o consumo caíram e a economia degringolou.

O bom senso recomenda que, com a inflação sob controle, governo e Congresso criem as condições para que o quadro de estabilidade se consolide e o país volte a crescer. Isso passa pela aprovação da reforma da Previdência. Superada essa etapa, a confiança dos agentes econômicos voltará, a atividade tenderá a entrar nos trilhos e, se sentir confortável, o BC poderá reduzir a Selic. Os mais otimistas falam em três cortes de 0,25 ponto percentual cada, para 5,75% ao ano. Se estiverem certos, o Brasil agradecerá.

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