Semana para orar pela Unidade

Dom Antônio Fernando Saburido
Arcebispo de Olinda e Recife

Publicado em: 04/06/2019 03:00 Atualizado em: 04/06/2019 09:06

Entre os eventos que a Igreja Católica assume na organização pastoral de cada ano, certamente um dos mais singulares e desafiadores é a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. É tão desafiadora que, provavelmente, entre todas as iniciativas e propostas da Igreja durante todo o ano, essa seja a que até hoje tem conseguido menos adesão das paróquias e grupos de base. Seria de se esperar que uma proposta que consiste em orar tivesse pronta e imediata adesão de todos os padres, religiosos/as e agentes de pastoral, assim como também dos grupos de base. No entanto, basta olharmos a realidade para verificar que, infelizmente, isso não é assim.

Esse fato ainda é mais estranho quando se sabe que já no final do século XIX, o papa Leão XIII, em seus escritos Providae Matris (1865) e Divinum illud múnus (1897) propôs a todas as paróquias e comunidades católicas que, nos oito dias anteriores à Solenidade de Pentecostes, fosse promovida a Oração pela Unidade dos Cristãos.

Como o Espírito Santo é o Espírito do Amor e a unidade é dom divino do Espírito, os cristãos deveriam invocar o Espírito e pedir a sua nova vinda. A ideia é a de retomar, em cada local e a cada ano, a reunião de Maria com os apóstolos, reunidos no Cenáculo, esperando Pentecostes e refazendo em nós a mesma oração que foi a de Jesus, na véspera da sua Páscoa: “Não rogo somente por eles (os discípulos que o acompanhavam), mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” Jo 17, 19- 21).

Há 56 anos, exatamente no dia 3 de junho de 1963, o santo papa João XXIII entregava a sua vida e deixava por escrito que oferecia a sua vida a Deus “pela unidade das Igrejas cristãs”.

Para viver com intensidade a ânsia pela Unidade que foi a de Jesus até a hora de sua morte, é preciso que sejamos cheios do espírito de amor que foi o seu. Isso significa nos despojar da presunção de que temos a verdade, de que não precisamos de ninguém e de que os outros não nos interessam. Já em 1964, há 55 anos, todos os bispos católicos do mundo, reunidos no Concílio Vaticano II afirmaram: A divisão do Cristianismo é contrária à vontade de Jesus Cristo. Essa divisão é consequência e expressão do pecado humano e é um escândalo para o mundo. Os cristãos, aos quais Jesus mandou pregar ao mundo o mandamento do amor e da unidade, eles mesmos estão divididos. Por isso, o trabalho para recompor a unidade das Igrejas é essencial à fé e à missão de toda Igreja cristã (Decreto Unitatis Redintegratio, n. 1). Por isso, é preciso orar entre nós, orar com nossos irmãos de outras Igrejas e que cada uma de nossas comunidades seja parábola e sinal de um mundo reconciliado.

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