Festas na Alepe e na APL

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 04/06/2019 03:00 Atualizado em:

Semana passada, convite endereçado à Academia Pernambucana de Letras para cerimônia de entrega de prêmios, na Assembléia Legislativa do Estado. Recompensava-se o esforço de bibliotecas públicas pelo incentivo à leitura, no ano passado. O projeto, idealizado pelas deputadas Tereza Leitão e Simone Santana (citaram Mario Quintana e Paulo Freire) premiava bibliotecas de municípios do interior do estado, e também a Biblioteca Estadual. Conhecíamos as atividades desta última, dirigidas a leitores mirins: concursos de redação, contação de histórias, leituras em grupo. E para os adultos, palestras, lançamento de livros, encontros, cursos, um grande esforço de atuação, nem sempre reconhecido à altura. Uma alegria, ouvir testemunhos dos premiados de Ferreiros, Tacaratu, Tacaimbó (só os nomes fazem sonhar, diria Ascenço), municípios cuja atuação, em prol da leitura obteve resultados surpreendentes no aumento dc leitores, na sede mesmo do município, ou em arredores, sítios e escolas distantes. Murilo Cavalcanti, secretário da Segurança Urbana, responsável pelos Compaz, representando o prefeito Geraldo Julio, contou sua experiência na direção daqueles órgãos, os sucessos obtidos com relação à leitura e a atividades diversas em comunidades carentes, inspirado pelo que viu na Colômbia, há uns anos. Uma ótima e urgente realização, esse incentivo a bibliotecas. E eu recordei o deslumbramento adolescente, semanalmente renovado, de minhas idas à Biblioteca Pública da Encruzilhada, situada na antiga Escola Industrial. Depois das aulas no Colégio Agnes, o caminho pelas ruas do Espinheiro era suavizado pela sombra dos oitis – e aqui, um pedido, por favor, senhor prefeito, não deixe cortarem essas belas árvores, presenteadas ao Recife, há umas décadas, por um amante da cidade, por sobrenome Amorim. O cansaço da marcha a pé, era recompensado pelo encontro com milhares, de livros, à disposição da leitora sem dinheiro para adquirir aqueles tesouros. E havia não só Machado, Alencar, Carlos Penna, Mauro Mota, mas aqueles estrangeiros que passei a amar de amor, Tchekov, Katherine Mansfield, Charles Morgan, Romain Rolland, felicidade pura. Por essas razões, foi uma emoção participar dessa comemoração na Alepe, semana passada,, ao lado da presidente Margarida Cantarelli, ela também, frequentadora da Biblioteca Pública da Encruzilhada naqueles tempos que não voltam mais, e aos quais devemos muito do que somos. A reunião na Alepe, foi abrilhantada por belo concerto de flautas, regido pelo maestro Wendel, da Escola de Criatividade. Pouco antes, na APL, reuniram-se acadêmicos e amigos, para ouvir Roque Brito Alves, sobre Os demônios da alma, ódio, inveja, ciúme. Partindo de sua vasta cultura literária, – Grécia, Shakespeare, Molière, o autor de Crime e Castigo, até chegar em Raimundo Carrero, que Roque chamou de “ Dostoievski brasileiro,” conhecedor da alma humana, enquanto criminalista internacionalmente considerado, Roque encantou e provocou o público. Houve questionamentos, e até mesmo confissões de ouvintes, que concordando com o palestrante, nos divertiram, relatando ciúmes pessoais, rompantes de inveja, e outras mazelas confessáveis, sob a invocação de nomes como Padre Vieira, Marcel Proust e o poeta francês Louis Aragon. De fato, essa última segunda- feira de maio foi um dia bem preenchido. Uma verdadeira festa do espírito. 

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