Professor Fernando Figueira em Alagoas

Jarbas Cerqueira
Médico

Publicado em: 25/05/2019 03:00 Atualizado em: 26/05/2019 18:35

Nessa sexta-feira, 24 de maio, às 11h, o professor Fernando Figueira recebeu uma das mais justas homenagens no Senado Federal após requerimento do senador Humberto Costa e dos deputados Felipe Carreras e João Campos. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, iniciou sua brilhante carreira na cidade de Quebrangulo no interior de Alagoas, também berço de Graciliano Ramos.

Ao chegar à cidade no ano de 1940, recém-formado, observou a existência de um grave problema de saúde que atacava a população, a schistosomose, causado pelo parasita schistosoma mansoni, que se aloja no fígado, adquirido nos banhos de rio e açude da região. A cidade carecia de serviços públicos em saúde e de médicos. A localização da cidade nas margens do rio Paraíba tornava mais fácil a propagação da doença por falta de saneamento básico. Coube a Fernando Figueira orientar a população para o grave perigo dessa doença, a hidropisia, chamada também de barriga d’água. Trabalhando em seu consultório, junto à farmácia de Manoelzinho Tenório, no centro da cidade, na Praça da Independência, atendia à população carente gratuitamente pela manhã, seu sustento era provido de sua atividade no período da tarde.Atendia a todos da cidade e da zona rural, indistintamente se era pobre ou rico, muitas vezes se deslocando à noite de cavalo. Generalista, atuava em quase todas as  áreas da medicina que lhe fosse possível atuar, independente de pagamento ou não.

Assim se passaram oito anos, não somente trabalhando, mas também se divertindo com seus amigos mais chegados, entre eles Cícero Fernandes, Arani Maia e Janjão Tenório, todos solteiros e namoradores, vestiam-se os quatro à mesma maneira: chapéu preto e diagonal branco inglês. As festas eram realizadas em casa de família ou nas fazendas, para onde se deslocava montado no seu cavalo chamado Satan, que lhe proporcionava muita satisfação e muitas quedas. Entretanto, carecia a cidade de um local próprio para suas festas. Com visão empreendedora, localizou um terreno aprazível que se encontra na confluência dos dois rios que se encontram no centro da cidade. Ali, foi construído, com doação dos fazendeiros e comerciantes, o Clube Monte Castelo, nome dado em homenagem  à vitória da Força Expedicionária Brasileira na conquista  de Monte Cassino, na Itália, durante a II Guerra Mundial. Grandes festas foram ali realizadas, como a da primavera, com a escolha de sua rainha, tendo sido coroada Eunice Magalhães. Participava de piquenique, caçada, vaquejada, transmitindo a todos alegria e companheirismo.

A prática da medicina, porém, era seu alvo. Com poucos recursos, conseguiu resultados surpreendentes, que chamavam a atenção cada vez mais de todos. Improvisou, certa vez, uma incubadora utilizando tijolos aquecidos em uma padaria e envoltos em lençóis, que eram colocados junto a crianças prematuras em seus berços. Fez partos difíceis. Dona Amélia, a parteira da cidade,  lhe chamava quando a coisa estava complicada.

Em 1948, deixa Fernando Figueira a pequena Quebrangulo. Todos lamentaram e lamentam até hoje, mas a necessidade de melhorar seus conhecimentos, principalmente em  pediatria, o levou à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Retornou ao Recife em 1957 para iniciar sua carreira de professor titular da cadeira de pediatria da Universidade Federal de Pernambuco e logo depois fundar o IMIP, o maior complexo médico-hospitalar de Pernambuco.

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