Editorial A paz que vem do silêncio

Publicado em: 10/05/2019 03:00 Atualizado em: 10/05/2019 08:40

Há quem diga que foi uma ordem, uma orientação direta. Outros avaliam como decisão pessoal, opção de bom senso. O fato é que o vice-presidente Hamilton Mourão está calado. E isso é um ótimo sinal. Ontem, em Belo Horizonte, Mourão trocou a entrevista que concederia à imprensa por um pronunciamento, numa sinalização de que o insensato e improdutivo embate entre os militares do governo e o guru Olavo de Carvalho e os filhos do presidente Jair Bolsonaro encontrou um limite.

Governar um país é missão dificílima. Tarefa ainda mais árdua se o país tem dimensões continentais. Desafio maior se falta dinheiro e sobram problemas. Mas ambição impossível se não há credibilidade, especialmente quando o mandatário precisa convencer a população e os outros poderes a encampar sua luta e cooperar com o plano escolhido por ele para a viagem de quatro anos que acaba de começar.

Nesse cenário, a melhor escolha é caminhar pela sombra, atravessar sobre as pedras, reabastecer sempre que necessário e reduzir a velocidade nos trechos mais críticos. O mandato está apenas no começo e as intempéries precisam ser evitadas a favor do objetivo de se alcançar um ponto mais distante.

Obstáculos improdutivos como as discussões travadas entre os dois grupos, claramente dominadas pela disputa de espaço no poder, fazem com que o Brasil perca muito mais que tempo. A cada intervalo provocado pelas batalhas virtuais de palavras, a nação se distancia do destino que imaginou para a jornada e o governo frustra cada expectativa dos votos nele depositados.

Interromper a sequência de ofensas e fornecer à nação o silêncio necessário à paz que o momento exige é prova de bom senso e responsabilidade diante do inimigo real: a estagnação econômica. É contra ela que devem se unir, muito mais que olavistas e militares, empresários, trabalhadores, desempregados, brancos e negros, de todos os gêneros e orientações sexuais. Uma economia vigorosa é a única heroína capaz de nos salvar e colocar o país de volta aos trilhos do desenvolvimento.

Aos que insistem na falsa importância das questões menores, que vinham tragando o governo para o redemoinho dos egos, sobra a célebre frase do marqueteiro do ex-presidente norte-americano Bill Clinton durante a campanha eleitoral de 1992: “É a economia, estúpido!”.

Para os jornalistas, obviamente, não há nada pior que uma entrevista substituída por um pronunciamento. Para o Brasil, no entanto, o momento pede um resfriamento de ânimos que só o silêncio é capaz de proporcionar. Quando um não quer, dois não brigam. Sempre que impera a razão, ganham todos.

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