Educação capenga

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/05/2019 03:00 Atualizado em: 05/05/2019 20:26

O Ministério da Educação no governo atual é certamente o mais capenga. Começou com um ministro que só conseguiu gerar intrigas e ficar tentando se manter no cargo. Não conseguiu; ainda bem. Era atrapalhado e incompetente demais. O seu substituto, Abraham Weintraub, também tem se mostrado bem complicado, apesar de não ter o perfil do seu antecessor. Também está demasiadamente preocupado com uma agenda ideológica e se esquece dos temas relevantes para a educação nacional, que vai mal. Precisamos urgentemente melhorar a qualidade de nossa educação, introduzindo novos instrumentos de ensino e melhorando a formação dos professores, independente do posicionamento  ideológico que tenham, pois isso é pouco relevante nesse contexto. Mas o nosso ministro atual parece mais preocupado com isso. Certamente tais atropelos custarão caro ao país, por retardar o desenvolvimento da educação.

É complicado pôr à frente do Ministério da Educação uma pessoa que não tem ligação com a área de educação e sequer tem um doutorado. Não sendo da área, terá dificuldade em entender a cultura do setor e dimensionar adequadamente a relevância dos problemas e como liderar as suas soluções. Não tendo uma formação educacional sólida, terá dificuldade em atuar em uma área em que a maioria das lideranças possui formação de peso, geralmente doutorado. É quase como pôr um mestre de obras para liderar equipe de engenheiros. Fica difícil conquistar a liderança e facilmente cria-se motivos para ver florescer antipatias. Tal situação atrapalha a eficiência dos trabalhos. Além do mais, o ministro atual tem demonstrado ser uma pessoa de personalidade arrogante. Isso complica ainda mais a situação.

Ao longo dessa semana, o ministro resolveu punir universidades específicas, por serem, na concepção dele, mais à esquerda, e depois remendar  a atitude  punindo todas as universidades federais com corte de 30% do orçamento delas. Todo administrador sabe que um corte de 30% no custo operacional não é fácil, principalmente em instituições com dificuldades de ajustes por causa das regras de contratação do setor público. Então a declaração de surpresa, sem planejamento prévio, fará com que os cortes não venham a acontecer ou levarão a desestruturação completa das universidades. Ou seja, a ideia parece ser mais produto do ódio e de antipatias criadas do que uma decisão racional de gestão. As possíveis dificuldades de relacionamento mencionadas acima parecem já estar gerando suas consequências. O ônus será para a educação superior no país.

As universidades públicas brasileiras, com destaque para as federais quando se sai do eixo Rio-São Paulo, são aquelas com maior desempenho de ensino e pesquisa. Isso porque as universidades públicas são aquelas que contratam professores com o pressuposto de que parte de seu tempo dedicado será destinado à pesquisa. Pouquíssimas privadas fazem isso. Por consequência, ao tentar levar tais instituições ao colapso, o ministro não só penaliza o ensino de melhor qualidade como a pesquisa acadêmica no país. Todos sabem que a maioria das pesquisas feitas por esses professores são irrelevantes. Mas elas devem ser vistas como um treino intelectual para que eles possam ensinar melhor. Essa é a principal razão para a distribuição de recursos para pesquisa de forma tão democrática entre professores das universidades públicas. Certamente os cortes vão penalizar esse treinamento intelectual dos professores e reduzir a qualidade do ensino superior no país. Se recordarmos que a qualidade de ensino em cada nível tem efeito em cascata para os níveis abaixo dele, seja por causa da competição que causam pelo efeito nas rendas individuais ou pelo treinamento de professores deles, impactar negativamente o ensino superior vai ter consequências perversas para  a qualidade de toda a cadeia do ensino no Brasil.

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