Onde se encontra nossa mãe gentil?

Bartyra Soares
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 02/05/2019 03:00 Atualizado em: 02/05/2019 09:10

É difícil, na situação atual em que se encontra o Brasil, vê-lo como a nossa pátria-mãe. A precariedade de recursos para o sustento de milhões de seus filhos descaracteriza essa acepção do que vem a ser mãe. A falta de emprego, moradia, alimentação, educação, saúde, segurança denunciam essa verdade que flagela quase a totalidade da população brasileira.

O que se presencia nos hospitais, nas escolas e noutros órgãos públicos sob a responsabilidade dos governos das três esferas que regem o país são instituições submetidas a todo tipo de problemas, o que contribui para que portas se fechem, prédios desabem e aviões cada vez menos interliguem cidades.

Tantos problemas exigem que se desenvolvam posturas éticas que atribuam maior importância à integridade, à correção de atitudes de muitos de seus governantes, inclusive no empenho de se oferecer, um tratamento igualitário aos indivíduos de todas as classes, etnias e escolhas religiosas. Para isso, é preciso que não haja a manipulação do poder de forma arbitrária como centro e medida de todas as coisas.

Afirmam os historiadores que, no Brasil, a noção de pátria-mãe surgiu quando portugueses, negros e índios, juntos, expulsaram, de Pernambuco, os holandeses. Noção que, mais tarde, veio a consolidar-se com a chegada da Família Real e, sobretudo, mais se evidenciou após a Proclamação da Independência.

Mas, cabe aqui indagar: de fato consolidou-se a noção de que o Brasil é um país-mãe para todos os brasileiros ou somente para alguns privilegiados? Nosso hino nacional refere-se à nossa pátria como mãe gentil. Entretanto, nas necessidades não somos tratados como irmãos, não temos as mesmas oportunidades, não recebemos as “gentilezas” proclamadas. Os desejos podem ser equivalentes, mas nem todos os sonhos são perspectivas de realização.

Por isso, os que têm a responsabilidade de governar têm a obrigação não só de prover o sustento de todos, também de criar-lhes condições dignas de sobrevivência, para que mesmo nos momentos mais difíceis não desistam de dar passos à frente, de buscar o soerguimento, de acreditar que mesmo distante a linha do horizonte pode ofertar esperança e concretização de sonhos. Em suma, para que não se sintam exilados na própria pátria.

Aqueles que partiram forçados pelo exílio sabem da dor da perda do que ficou para trás. A poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen definiu com exatidão a dor dessa perda: “Quando a pátria que temos não a temos/ Perdida por silêncio e por renúncia / Até a voz do mar se torna exílio / E a luz que nos rodeia é como grades”.

Ser responsável pelo Brasil exige dedicação dos seus governantes, requer um alerta permanente para que seus filhos se percebam amparados pelo afeto dessa terra-mãe, confiando na sua capacidade de repartir igualmente as suas conquistas, o que só acontecerá quando prevalecerem os princípios da justiça e da moral. E quando todos tiverem a consciência que levou Pablo Neruda a reconhecer: “... a pátria, antes da vida, / é a nossa mãe, é o nosso chão...”

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