Filósofos do atraso

Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário da Fazenda e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.

Publicado em: 02/05/2019 03:00 Atualizado em: 02/05/2019 09:10

Idos de 1960. Colégio Nóbrega. Curso Clássico, precedendo a escolha de Direito. No currículo, Filosofia. O professor era um jovem jesuíta. No decorrer das aulas, foram sendo delineadas as fronteiras do conhecimento. Nos seus três níveis: conhecimento empírico, conhecimento científico e conhecimento filosófico.

Aquelas noções, a estudantes que se preparavam para o curso superior, foram definitivas. O conhecimento empírico apreendido nas mãos operárias do pedreiro. O conhecimento científico absorvido nas hipóteses testadas em laboratórios. E certificadas na confirmação da ciência. O conhecimento filosófico moldando o pensar. Pensar correto. Na lógica. No silogismo. Todo homem morre. João é homem. Logo, João é mortal.

Aqueles princípios formaram a base que sedimentou o universo da Filosofia do Direito. Que viria a seguir. De Recasens Siches, por exemplo. Na sua lógica do razoável.  

Por isso, não entendi, e não entendo, a orientação do governo de desmerecer o ensino da Filosofia. Mas, há mais. Tomemos a origem do pensamento ocidental cristão, tão caro aos do governo. Em Platão, vamos encontrar a ideia da busca da verdade. E, em Aristóteles, o entendimento do conceito de felicidade. Verdade e felicidade. Eis o binômio que mais ecoa a aspiração do espírito do homem ocidental. Na ventura que leva angústias e desígnios no céu de cada um.  

Quer mais ?

A caminhada que o homem histórico escreve, superando as trevas, dispensa o dogmatismo. E consagra o iluminismo dos filósofos. Valorizando o pensar. Realçando a capacidade de formular. De formar juízo crítico. De fazer o contraditório para tornar o mundo melhor. E isto foi no século 18.

Estamos no século 21. Avançamos muito na consolidação de ideais e de instituições. Ultrapassamos a era das revoluções. Amadurecemos a conquista de formas de convivência democrática. E estamos, hoje, enfrentando o desafio do neopopulismo autoritário.

Por isso, após tantas pedras no caminho, fico pasmo. Pasmo no que me parece a filosofia do atraso. Pretender revogar a filosofia é um atraso milenar.

Na prática, verdadeiramente, filosofar é semear o futuro. É assinalar, no horizonte do humano, as estrelas que iluminam a vida coletiva. Pois nada é tão humano e coletivo quanto a filosofia.



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