Editorial A ordem é negociar

Publicado em: 02/05/2019 03:00 Atualizado em: 02/05/2019 09:09

Treino é treino. Jogo é jogo. Definidos os membros da Comissão Especial que vai analisar a reforma da Previdência, deu-se início à partida. Sob a presidência de Marcelo Ramos (PR-AM), os 49 deputados terão a responsabilidade de debater o conteúdo da proposta — essencial para a recuperação das contas públicas. O embate na primeira batalha enfrentada na Comissão de Constituição e Justiça deixou claro que a tarefa será difícil.

Desarticulado, o governo abriu brechas para que a oposição lançasse mão de todos os meios a fim de obstruir a tramitação da PEC. A comissão serviu de palanque para a luta política, não para a discussão da iniciativa. Houve até debate sobre o mérito, quando o objeto da CCJ é deliberar sobre a constitucionalidade da matéria. Para vencer o primeiro round, considerado mais fácil que os posteriores, o Planalto negociou com o Centrão e alterou quatro pontos no texto original. Venceu com folga — 48 votos a favor e 18 contra.

Ficou a lição. O verbo é negociar. Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, desempenha papel-chave no processo. Faz bem em se mobilizar para somar forças. Aumentou o número de membros da comissão de 34 para 49 membros. Com isso, dá maior representatividade ao grupo. Também anunciou articulação com os governadores para garantir apoio das bancadas estaduais. Ele defende a tese acertada de que a reforma da Previdência é assunto de Estado, não de governo. O tema, vale lembrar, está em pauta há mais de 20 anos. Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer tentaram levar avante a necessária mudança. Fracassaram.

O Brasil não suporta outra derrota. A economia dá sinais claros de que lhe faltam forças para manter a retomada do crescimento esboçada nos últimos meses do ano passado. Retrato mais trágico dessa realidade são as cenas exibidas pela tevê de multidão de desempregados em fila na busca de colocação no mercado de trabalho. As estatísticas dão o mesmo recado. Mas os números frios são incapazes de mostrar a dramaticidade da situação. Os rostos sofridos traduzem a tragédia: no fim de 2018, a previsão de crescimento do PIB para 2019 beirava os 2,5%. Hoje se fala em 1,5%.

Marcelo Ramos mostra-se afinado com a reforma. Lembrou que os deputados não podem brincar. Têm de ter responsabilidade com o país. É bom. Jair Bolsonaro precisa desempenhar o papel que lhe cabe no processo com convicção. Impõe-se fazer política: acompanhar os debates e traçar estratégias aptas a agregar. Conversar com os partidos e os parlamentares não significa praticar a velha política do toma lá dá cá. Demonizar o parlamento é mau negócio. A tramitação da reforma na CCJ serve de prova. Negociar é preciso.

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