A história dos Tártaros na Mocambo

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 29/04/2019 03:00 Atualizado em: 29/04/2019 05:49

A minha história tem um traço muito forte que se chama  Música, a que dediquei uma paixão de apache, para usar a expressão de Renato Carneiro Campos, tão proclamada e nem sempre inteiramente entendida em todo seu envolvimento. Fui músico amador e profissional, sim, com participação na Jovem Guarda tocando no sempre muito querido Os Tártaros, com meus queridos amigos Zé Araújo, Djilson, Walter e Fred.

Lembrei-me, ontem, intensamente do conjunto com a matéria de José Teles, outro querido amigo, o sempre correto e digno José Teles,  importante pesquisador da música popular brasileira, reconhecido por Nélson Mota , conforme se comenta nos meios culturais. Telles está escrevendo um caderno especial para o Jornal do Commércio e semana passada entrevistou Hélio Rozemblit, herdeiro técnico e sentimental da fábrica de Discos Mocambo, da família Rozemblit, a mais importante gravadora da América Latina na década de 1960.

Gravamos um compacto simples na Mocambo, creio que em 1967, com duas músicas Es Para Mim o Que Sempre Quis, uma versão de Sondja Beirão, irmã de Djilson, sucesso, sim, sucesso mesmo durante vários meses, e Sou Feliz com Você, música de Zé Araújo sobre letra minha, com participação dos irmãos Caruaru, regência do maestro Duda, técnica de Hercílio, um homenzinho baixo e magro,irritado e silemcioso , que conhecia tudo de som.

Foi uma emoção muito grande e permanecemos uma semana nos lendários estúdios da Estrada dos Remédios, saindo apenas para comer.  O estúdio de gravação era imenso e precisamos de muitos dias para concluir o trabalho quase artesanal. Às vezes o técnico não gostava e, não rara vezes, a fita do gravador quebrava. Não sei como aquilo se chamava, mas era uma caixão grande com dois rolos de fita que era colada com durex quando se quebrava ou quando era preciso arrancar o, feio, o torto e o desafinado. Ou o velho Hercílio ou Duda condenava.

Depois da gravação o disco demorou muito a sair. E, numa manhã, indicaram-me um rapaz que estava revisando fitas, “fale com ele”, aconselharam-me, talvez fosse Hélio, não trocamos nomes. Dois dias depois fui informado de que o disco seria lançado imediatamente. E foi. Sem festas e sem celebrações, simplesmente foi enviado para as lojas  e para os rádios, como se fazia na época.

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