Editorial Infraestrutura na UTI

Publicado em: 23/04/2019 03:00 Atualizado em: 23/04/2019 08:49

Chuva acompanhada de forte vento fez estragos em Brasília no domingo. Alagou ruas, inundou prédios, interditou passagens, afogou carros, invadiu prédios, provocou apagões, derrubou árvores. O aeroporto suspendeu pousos e decolagens. A estação central do metrô foi fechada. A Universidade de Brasília interditou parte das dependências. Vale lembrar que, no ano passado, parte do Eixo Rodoviário despencou. O fato ganha relevância quando se sabe que se trata da via mais importante do Distrito Federal.

O caos se instalou no dia em que a cidade comemorava 59 anos de existência. É pouco tempo de vida para não resistir a um temporal. A conclusão não pode ser outra: alguma coisa está errada. A constatação não se restringe à capital do país. Atinge outras unidades da Federação independentemente de situação geográfica ou do grau de desenvolvimento. Ruas virarem rios tornou-se cenário comum a urbes como Rio, São Paulo, Belo Horizonte. Viaduto cedeu na capital paulista, ponte desabou em Belém do Pará, ciclovia ruiu na capital carioca.

São exemplos que comprovam o descaso com a manutenção da infraestrutura. Obras, que demandaram recursos para serem construídas, sofrem de irresponsável negligência no tocante a cuidados essenciais para a continuidade da função para a qual foram erigidas. É como se alguém comprasse uma casa nova. Ao longo dos anos, não cortasse o mato que cresce em torno, não repusesse vidros quebrados, não trocasse lâmpadas queimadas, não consertasse goteiras, não renovasse fiações nem encanamentos. Um dia a casa cai.

É o caso do Brasil. O país investe pouco, muito pouco em infraestrutura. Especialistas afirmam que o montante não cobre sequer as urgências da manutenção. Para evitar que se deteriorem obras de transporte, energia, logística, telecomunicações e saneamento, impõe-se investir 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, o desembolso foi de 1,69%. Ocorre que o país cresce e, com ele, as demandas. Somadas manutenção e expansão, o investimento salta para 4,5% do PIB até 2030.

O gargalo restringe o desenvolvimento econômico. No ranking da Competitividade Global 2017-18, do Banco Mundial, o Brasil ocupa o melancólico 108º lugar na comparação com 137 países. O atraso cobra preço alto — menos produção, menos vendas, menos empregos. Há que investir. Mas faltam recursos. Com os cofres vazios, o governo tem de atuar em duas frentes.

De um lado, articular-se para que a reforma da Previdência seja aprovada com rapidez, sem os solavancos evitáveis como se vem observando até agora. De outro, aprofundar as concessões à iniciativa privada. Em 2019, foram leiloados 23 ativos entre portos, aeroportos e ferrovias. Urge avançar. Nem por isso, porém, o Estado ficará descompromissado com aportes no setor. Ele precisa dispor de recursos para investir em áreas pouco atraentes para particulares. Hoje, na Comissão de Constituição e Justiça, os deputados têm de tirar os olhos do umbigo e mirar as necessidades de um país que não dá conta de enfrentar um temporal.

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