Os demônios da alma na visão de Roque

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 22/04/2019 03:00 Atualizado em: 22/04/2019 09:46

Tenho dedicado parte da minha obra ao questionamento dos problemas sociais brasileiros e ao estudo dos demônios da alma – ódio, inveja, ciúme, por exemplo, além de incesto, sadismo, paixão, por muito pouco não coloco amor, o amor é, sem dúvida, o grande desafio da alma -através de debates e desafios dos meus personagens. É claro que posso estar errado, expondo-me a uma confusão sem sentido. Prefiro assim. Neste caso, sou apenas um ficcionista que erra.

Roque de Brito Alves tem sido veemente e forte nesta reflexão, investindo nos três polares da destruição: inveja, ciúme, ódio, vingança -, pela ordem, por assim dizer, contribuindo, de forma magnífica, para o estudo destes demônios íntimos, que nos jogam para a dor, para o sofrimento, para a tragédia.

Ele escreve: ”Em nossa compreensão, a intuição genil da ficção literária sobre a natureza humana em seus vícios, pecados, crimes e em sua maldade mais do que suas virtudes antecedeu e foi superior aos trabalhos científicos ou a sua formulação jurídica”.

O estudioso acrescenta: “Comprovamos esta nossa compreensão com as obras dos trágicos gregos – Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, 400-500 antes de Cristo – de Dante Alighieri – 1265-1321- , William Shakespeare – 1564-1616- , o mestre maior das paixões humana, e Fiodor Dostoievski – 1821 – 1881.” Como fundamento desta nossa tese, mas a citação, tão somente, do sentimento de vingança sangrenta da personagem Medeia do grande trágico grego Eurípedes, estreia em 431 antes de Cristo.

No estudo, Roque adverte que “inúmeros crimes passionais em todos os países – sobretudo nos latinos,  comprovaram que psicologicamente é muito fácil a passagem do amor ao ódio, embora sejam também psicologicamente duas paixões opostas, dois extremos inconciliáveis, mata-se mais por ódio que por amor. Assim, o amor seria uma antecâmara do ódio, o que muitos casos e fatos – que não necessitariam ser criminosos- ocorridos na vida cotidiana demonstram com muita frequência.”

Vaidosamente devo acrescentar que estes elementos motivam toda a minha obra, parte dela reunida em Condenados à vida, romance que escrevi durante 30 anos estacados em quatro livros que fui publicando separadamente desde Maçã Agreste, seguindo Somos apenas pedras que se consomem, O amor não tem bons sentimentos e Tangolomango, publicado, exemplarmente, pela Cepe, em edição brilhante e única.

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