Calouste Gulbenkian - 150 anos

Marcus Prado
Jornalista

Publicado em: 22/04/2019 03:00 Atualizado em: 22/04/2019 09:46

As celebrações, iniciadas em Janeiro/2019, dos 150 anos de nascimento do magnata do petróleo e filantropo armênio, Calouste Gulbenkian, deram ensejo à publicação, em Lisboa, pela editora Objectiva, da talvez definitiva biografia do criador de uma das mais importantes instituições culturais da Europa, a Fundação que traz o seu nome, com sede em Lisboa.  Refiro-me ao livro O Homem Mais Rico Do Mundo: As Muitas Vidas de Calouste Gulbenkian.

Seu autor, o norte-americano Jonathan Conlin, nasceu em Nova Iorque, estudou História e Línguas Modernas na Universidade de Oxford e atualmente dá aulas na Universidade de Southampton.  Colin faz a sua narrativa crescer a cada página, com detalhes que jamais teríamos conhecimento se não fosse pela leitura desse livro. Conta a longa e fascinante trajetória do biografado, desde a infância, em Scutari (hoje Üsküdar), Istambul, até o reconhecimento do seu prestígio de bilionário cosmopolita e de refinado bom gosto como colecionador dos grandes mestres da Pintura de várias épocas e estilos, as cidades onde viveu: Paris, Londres e Lisboa (a que mais amou), a vida empreendedora como industrial do petróleo e o contexto social e histórico em que viveu, (aos 25 anos já era milionário). Foi detentor de uma das maiores fortunas do mundo, mas poucos o conheciam porque fugia do protagonismo e até evitava ser fotografado.

Os desejos ocultos, as contradições e os mistérios da vida pessoal, os seus amores, mesmo depois de casado (com anuência da esposa, de família riquíssima), são os destaques passados a limpo nesse livro. Com base em arquivos inéditos e anotações autobiográficas do próprio biografado, incluindo cartas e diários não publicados, assim como filmes e gravações, o autor cria um inesquecível painel do grande vulto humano e seus paradoxos, seus costumes de homem extremamente reservado (pagava caríssimo por isso), suas frustrações (não conseguiu comprar tudo o que queria – como o quadro de Goya, La Condesa de Chinchón, que está hoje no Museu do Prado) – e o fato de ter desejado ser cientista. Tinha, no entanto, a compreensão de que a arte pode ajudar-nos a tentar o impossível.

Entre os brasileiros, o primeiro a se interessar por Calouste Gulbenkian, sua vida e sua gigantesca obra cultural, foi o pernambucano de Apipucos, Gilberto Freyre. Calouste Gulbenkian é o nome do principal auditório da Fundação Joaquim Nabuco, foi uma escolha de Gilberto.  O mesmo Freyre que iria descobrir Thomas Mann e James Joyce para os brasileiros. Assim como nos trouxe, antes de outro leitor privilegiado, como ele foi a vida inteira, o poeta irlandês William Butler Yates, os “poetas novos” dos Estados Unidos: Vachel Lindsay, Amy Lowell e outros.

A Gulbenkian, o antigo Instituto Joaquim Nabuco, hoje Fundação, e o Musée de l’Homme, de Paul Rivet, tenho para mim, são talvez parentes, primos, quase irmãos. Paul Rivet (de quem Gulbenkian muito se aproximou,) e Freyre eram grandes amigos, uma amizade sobre a qual raros no Brasil, como eu e o antropólogo paulista, meu saudoso amigo Paulo Duarte, muito escrevemos. Freyre e Magdalena foram  hóspedes, mais de uma vez, de Paul Rivet,  na  famosa Torre do museu francês.

É um livro, o de Jonathan Conlin, muito além dos limites biográficos. É certa a sua contribuição para as celebrações, que vão durar o ano inteiro, de uma grande vida.

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