Editorial Clareza na política de preços

Publicado em: 18/04/2019 03:00 Atualizado em: 18/04/2019 08:34

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que “não quer” e “não pode” interferir na política de preços da Petrobras. O mesmo entendimento foi anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele garantiu que a empresa está livre para fixar o valor do combustível. A decisão ocorre quase uma semana depois de o presidente ter brecado o reajuste de 5,7% no óleo diesel, atendendo a apelo dos caminhoneiros, com a justificativa de que precisava entender a fórmula de cálculo de aumento de preços usada pela estatal. A iniciativa foi desastrosa. O mercado reagiu à interferência, e o valor de mercado da empresa caiu mais de R$ 32 bilhões. Ontem, o presidente da empresa, Roberto Catello Branco, anunciou aumento de R$ 0,10 no litro do diesel, mas a periodicidade dos reajustes ainda não está definida.

No ar, pairou um clima de insegurança ante o gesto incoerente do governo, que defende uma economia liberal e a redução do Estado. O discurso do ministro, bem como o recado enviado pelo presidente, não basta. É preciso que, na prática, seja cumprido o que foi prometido. A crise ainda não passou. A política de preços da Petrobras é um dos muitos nós a serem desatados na relação entre governo e consumidores. Entre eles, os caminhoneiros.

As providências anunciadas pela equipe econômica atendem parcialmente as reivindicações da categoria, além de serem medidas de médio e longo prazos, como a recuperação das rodovias, que exigirão vultosos investimentos. A criação de uma linha de crédito de R$ 500 milhões seria excelente não fosse o endividamento que a maioria dos autônomos enfrenta e, portanto, terá pouca utilidade.

A ameaça de paralisação, um dos motivos que levou o presidente Bolsonaro a suspender o reajuste, não está totalmente dissipada. Líderes dos caminhoneiros não descartam a possibilidade de greve ante a indefinição do valor do piso mínimo de frete e a falta de clareza sobre a política de preços da Petrobras, que hoje prevê reajustes quinzenais. As equipes de Paulo Guedes e da estatal estudam alternativa para o impasse.

Transparência na formatação do preço dos combustíveis não interessa só aos caminhoneiros. Trata-se de demanda da sociedade. Não há orçamento que suporte as oscilações, quase sempre para cima, do valor do litro da gasolina e do diesel. Quando o valor cai, raramente chega aos consumidores com a mesma velocidade do aumento. O motorista vê o planejamento de gasto mensal derreter.

Os caminhoneiros elevam o custo do frete, o que impacta no preço final dos produtos para a população. Consumidores, empresários e autônomos esperam mais clareza nesse setor. Ninguém quer diesel no chope. A crise que afeta as contas do poder público é a mesma que oprime a maioria dos brasileiros.

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