Fugir à velha política

Ignacio Pirotta
Cientista político

Publicado em: 17/04/2019 03:00 Atualizado em: 17/04/2019 09:36

A crise entre o Executivo nacional e o Legislativo que teve lugar no final de março com Rodrigo Maia como um dos protagonistas, aconteceu no contexto do embate do Presidente da República com a chamada “velha política”. “Bolsonaro precisa dizer o que é a nova política”, disse Maia, ao tempo que pediu ao Presidente sair de Twitter e se ocupar de fazer política para impulsionar sua agenda de governo. No último tempo uma pergunta soa cada vez mais: qual é a tal de nova política? A pergunta expressa com precisão o momento da política brasileira de reacomodação do sistema político e da maneira em como este funcionou pelo menos durante a última década e meia.

A “velha política” se refere em primeiro lugar às práticas de corrupção que, entre outras coisas, facilitaram o presidencialismo de coalizão. Em segundo lugar, o termo se refere às práticas que visam mais manter parcelas de poder da classe política do que solucionar os problemas dos brasileiros. Esse são os dois elementos centrais da crise de representação que atinge o Brasil, entendida como a falta de confiança nos representantes políticos.

Ainda não sabemos qual é a nova política, mas sim sabemos qual é a velha. O sistema político brasileiro está em plena transformação após a corrupção revelada principalmente pela Lava-Jato. Também são evidentes as demandas insatisfeitas dos cidadãos, como maior segurança, melhores serviços públicos, melhora da economia, emprego, etc., que pressionam à classe política em busca de soluções.

Jair Bolsonaro, além de representar um pensamento de direita (ou extrema direita), representa essa crítica dos cidadãos à velha política. Durante esses  dias de governo, Bolsonaro errou em várias oportunidades ao levar ao extremo essa crítica, associando toda articulação Executivo/Legislativo às práticas de corrupção. Aliás, vários pontos do discurso contra a velha política podem ser rebatidos.

Porém, a classe dirigente brasileira tem a enorme tarefa de recompor a credibilidade na política e na democracia. O desafio, para aqueles que sejam oposição ao Governo de Bolsonaro é dupla: defender os interesses de seu eleitorado (fazer o papel de oposição) e fugir da etiqueta que o governo tentará colocar neles, a de “velha política”.

Fugir da etiqueta da velha política para os oposicionistas é de fato satisfazer a demanda de uma política mais transparente. Mas também é procurar soluções para os problemas dos brasileiros sem ficar só na oposição; proatividade e criatividade excepcional são necessárias neste tempo de crise. E é nas crises que surgem as oportunidades de o novo nascer.

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