O cérebro e seus mistérios

Maristela Negri Marrano
Pós-graduada em Neurociências aplicadas a Longevidade - UFRJ. Mestre em Educação Física - UNIMEP. Sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba - CLAP

Publicado em: 16/04/2019 03:00 Atualizado em: 16/04/2019 08:24

Em um feriado prolongado, Paulo dirige seu carro branco, pela rua de uma grande cidade. De repente, ao se distrair com algo, perde a direção e choca-se com um poste. Paulo, sem ter o cinto de segurança afivelado, sofre fratura do crânio e perda do tecido cerebral. Fica um mês em coma, com uma lenta recuperação no hospital e gradativa restauração das funções atingidas.

Luiza presencia o fato de longe, ficando extremamente impressionada com os ferimentos de Paulo. Nunca mais ela esquece o que viu.

Marcos, na hora de seu almoço, lê no jornal sobre o acidente de Paulo, e a informação de que os cintos de segurança efetivamente protegem os motoristas. A leitura de tal artigo o convence da necessidade de usar o cinto de segurança, o que passa a fazer sistematicamente.

Caro leitor, o que há de semelhante nas três situações apresentadas?

Podemos observar que em cada situação, o ambiente externo (acidente, visão do acidente, leitura do artigo) influiu sobre o sistema nervoso de diferentes maneiras e com diferentes intensidades em cada um dos indivíduos.

No caso de Paulo, o acidente provocou uma lesão cerebral, que foi restaurada gradativamente. Luiza, ao presenciar o acidente teve uma forte impressão emocional, que ficou gravada em sua mente, mas não houve nenhum dano em seu cérebro. E Marcos, absorveu informações através da leitura do jornal e modificou o seu comportamento mediante as informações adquiridas. Fica claro que os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos responderam aos estímulos do ambiente.

O que terá ocorrido com o cérebro desses três indivíduos?

Os cérebros de Paulo, Luiza e Marcos se adaptaram e se reorganizaram frente as novas situações vivenciadas por eles, o que hoje é conhecido como NEUROPLASTICIDADE, ou simplesmente PLASTICIDADE.

Houve uma resposta regenerativa às lesões traumáticas destrutivas no caso de Paulo e uma sutil alteração resultante dos processos de memória e aprendizagem em Luiza e Paulo. O sistema nervoso central (SNC), não é uma estrutura rígida, suas células: os neurônios, não são imutáveis como se acreditava há algum tempo. Hoje sabe-se que o SNC tem grande adaptabilidade e a capacidade em modificar sua estrutura e função.

O grau de plasticidade neural varia de acordo com a idade da pessoa, sendo mais plástico durante o desenvolvimento, diminuindo gradativamente na maturidade. A capacidade plástica não se extingue, como se pensava anteriormente, o cérebro na velhice continua se adaptando, modificando-se frente a novos estímulos ambientais.

Quando falamos que o cérebro se modifica ao receber estímulos externos, o que exatamente ocorre no sistema nervoso central?

Os neurocientistas que se dedicaram ao assunto constataram que, em alguns casos, é possível identificar mudanças morfológicas como a neurogênese (nascimento de novos neurônios); sinaptogênese (formação de novas sinapses, onde acontece a comunicação entre os neurônios); aumento do fator BNDF (fator neurotrófico derivado do cérebro), molécula que aumenta a sobrevivência e resistência do neurônio a danos, melhorando o desempenho cognitivo. E temos as mudanças funcionais que é justamente a que afeta o comportamento das pessoas.

Portanto, caros leitores, vamos exercitar o nosso cérebro, colocá-lo para funcionar de todas as formas, com atividades físicas, cognitivas (aprendendo algo novo a cada dia) culturais, sociais, espirituais, com boa alimentação, boa noite de sono, bom humor e muitas risadas para iluminar o seu dia!

Gratidão!

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