Editorial Bolsonaro e a vitória de Netanyahu

Publicado em: 13/04/2019 03:00 Atualizado em: 15/04/2019 08:18

A eleição do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, para o quarto mandato consecutivo agradou ao presidente Jair Bolsonaro. Na viagem a Tel Aviv, em março, ele defendeu a eleição do amigo. Bibi, como Netanyahu também é conhecido, foi destaque entre as personalidades que vieram à posse do presidente brasileiro. Além da afinidade ideológica entre ambos, Bolsonaro prometeu — mas está longe de cumprir — transferir para Jerusalém a embaixada brasileira, assim como fizeram os Estados Unidos.

Embora a recondução de Netanyahu represente uma porta aberta para o atual governo brasileiro no Oriente Médio, Bolsonaro terá que pesar muito bem os prós e os contras dessa aliança. Os evangélicos torcem para que o presidente leve adiante a ideia de mudar a embaixada para Jerusalém. Mas nem tudo que é bom para os israelenses, e, principalmente, para os interesses de Netanyahu, é positivo para o Brasil.

Tanto que Bolsonaro foi alertado pelos auxiliares mais próximos de que a mudança da representação diplomática para o território disputado por israelenses e palestinos teria implicações negativas nas relações com nações do mundo árabe e muçulmano, que divergem da política agressiva de Israel na região. Entrar no meio desse conflito certamente custará caro para o Brasil. O primeiro impacto seria nas relações comercias. As exportações desabariam.

Os árabes estão entre os principais importadores de carne bovina e de frango do Brasil, com o selo halal, que atesta o uso da técnica de abate conforme os preceitos islâmicos. Eventual restrição aos produtos nacionais, com o fim da neutralidade brasileira, poderia ocasionar prejuízos em torno de US$ 11,5 bilhões por ano ao país. Não por acaso, Bolsonaro jantou, nesta semana, com embaixadores dessas nações para tentar amenizar o mal-estar.

O presidente brasileiro terá que pesar muito bem suas intenções, antes de se indispor diplomaticamente com a Liga dos Países Árabes, com parcela da Organização das Nações Unidas e também com os católicos. Na reta final da campanha eleitoral, Natanyahu deixou claro não ter interesse em levar adiante nenhuma negociação por um acordo de paz entre israelenses e palestinos. Pelo contrário. Netanyahu pretende anexar a Israel as colônias judaicas existentes na Cisjordânia. Sinal claro que os conflitos vão prosseguir na contramão do que defende a maioria das nações.

Para afagar o amigo, Bolsonaro abriu um escritório de negócios em Jerusalém. Tomara que fique por aí. O Brasil não pode ser prejudicado por uma posição pessoal do presidente, que, por suas ações equivocadas, faz um estrago atrás do outro. O mais recente deles foi a intervenção na Petrobras para suspender o aumento do óleo diesel. A estripulia custou R$ 32,4 bilhões no valor de mercado da Petrobras. Dinheiro não aceita desaforo.

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