Desafios e rumos da educação no Brasil

Paulino Fernandes de Lima
Mestre em Letras (Universidade Federal do Ceará); pós-graduado em Docência do Ensino Superior; professor e Defensor Público.

Publicado em: 10/04/2019 03:00 Atualizado em: 10/04/2019 08:44

Se considerarmos, com rigor, a frase “um país se faz com homens e livros”, dita por Monteiro Lobato, nosso Brasil segue sem completude. Mesmo ainda sob o êxtase das expectativas geradas, em muitos, de que a educação seria o centro de alavancada de nossa Terra, o que, em verdade se assiste, é a ruína do que restou dos raros períodos de impulso por que passou o ensino no Brasil.

Comparando-se (por quão inevitável é comparar) a educação, em qualquer nível, do Brasil com outros países, deparamo-nos com a indesejável constatação de que o trinômio ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO não alcança um “status” que nos permita destaque.

Ainda no início da década de 90, é digno de nota (e de leitura) um interessante estudo feito pelas professoras Maria Tereza Leme Fleury e Maria Isabel Leme de Mattos, intitulado Sistemas educacionais comparados, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0103- 40141991000200006, o qual investigou a educação no Brasil e em outros países. Naqueles meados, já apontavam que a efetividade de nosso sistema educacional se encontrava abaixo da média de outros países e que (concluindo a pesquisa), medidas para reverter tal quadro não deveriam se restringir àquelas de ordem quantitativa, sendo há muito preciso reverter a gestão do sistema, para que se promovessem as mudanças necessárias.

No entanto, já percorremos quase três décadas, sob um alerta vermelho, passando por mudanças no PNE; na forma de ingresso nas universidades; experimentando diferentes metodologias de ensino, tendo sido mal avaliados, por epitáfio, como deixando muito a desejar, em tema de desenvolvimento na área que deveria ser a “menina dos olhos” de um país.

Atualmente, vive-se um momento de indefinição; de uma ausência ainda não explicada de um projeto para o ensino, seja para a educação berçária; seja para a educação continuada. Para piorar a situação, volta e meia são anunciadas medidas dissociadas de um plano ou de uma meta, quase sempre revogadas de imediato, o que só faz aumentar o retrocesso e seus efeitos. Anunciou-se, por exemplo, que seriam realizados maiores investimentos na educação de base que na superior; que o enfoque seria dado mais ao ensino profissionalizante do que ao de formação acadêmica. Todavia, nenhum desses campos foi alvo de alguma medida de soerguimento, tampouco os outros níveis se mantiveram no alvo de investimentos.

Enquanto isso, e retomando o exemplo de outras nações, Japão, Finlândia, Singapura e Alemanha disparam em velocidade maior que a da conta de luz (que, por sua vez supera a da própria luz, só para relaxar).

Na Finlândia, assim como em outros países escandinavos, a exemplo da Suécia e da Noruega, um professor opera em média 600 horas anuais na sala de aula. O dobro do que se tem nos Estados Unidos. E o espaço de aprendizado não se restringe à sala física, mas às aulas em contato com a natureza, o que, literalmente, poder-se-ia chamar de “aulas de campo”. Sob o mesmo signo de qualidade, Singapura, ao invés desse investimento educacional que situam o aprendizado para fora dos muros da escola, não deixa por menos, pois investe, maciçamente, na tecnologia, como sustentáculo de seu sistema em tema de desenvolvimento educacional.

Falta ao Brasil acordar para estudar cedo, antes que seja tarde demais e o embelezamento rapsódico da educação nos adormeça, pois o ensino noturno ou “madrugada a dentro” é duro, tão duro.

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