Editorial Desafios de Abraham Weintraub

Publicado em: 10/04/2019 03:00 Atualizado em: 10/04/2019 08:44

Ricardo Vélez está fora do comando do Ministério da Educação. Depois de quase 100 dias à frente da pasta, o colombiano naturalizado brasileiro deixou a certeza de que, além de ignorar os desafios do setor, desconhecia a língua, a história e a cultura do país. Ao assumir, não disse a que veio. Parecia, a exemplo de Dom Quixote, lutar contra moinhos de vento. As metas eram combater o marxismo e a ideologia de gênero. E, com isso, recolocar as famílias e os estudantes nos trilhos. Que trilhos? Ninguém sabe.

Abraham Weintraub, o novo titular, sai das entranhas do Palácio do Planalto. Secretário-executivo da Casa Civil, era o braço direito do ministro Onyx Lorenzoni. Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Weintraub é professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atuou durante três décadas no mercado financeiro. Fez parte da equipe de transição de Jair Bolsonaro, oportunidade em que apresentou proposta na área da Previdência — tema da sua dissertação de mestrado e de livros que publicou.

Não se trata, como prova o currículo, de especialista em educação. Mas espera-se que se cerque de equipe apta a assessorá-lo na formulação de uma agenda que contemple as reais urgências do talvez mais importante ministério do governo. Dele depende a revolução que traçará o futuro do país. O maior desafio: melhorar a aprendizagem dos alunos. Avaliações comprovam que metade das crianças concluem o terceiro ano de estudos sem se alfabetizar e apenas 9% dos que saem do ensino médio correspondem às expectativas mínimas no domínio da matemática. Esse é o inimigo a atacar. O país tem material humano de excelência e experiências exitosas no setor. Aproveitá-los é imperioso.

O MEC tem urgências inadiáveis. Entre elas, três sobressaem. Uma: implantar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define o conteúdo essencial a ser ministrado nos ensinos fundamental e médio. Outra: aprovar a reformulação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), mecanismo que promove a redistribuição dos recursos vinculados à educação, levando em conta o desenvolvimento social e econômico das regiões. Em 2020 vence o prazo do fundo. Há que substituí-lo com aprimoramentos, o que demanda tempo. Mais uma: qualificar os professores para a educação do século 21.

Não é pouco. Weintraub assume um ministério em frangalhos. Tem carta branca para preencher cargos. Mas não tem carta branca para errar. Temas marginais ligados a ideologias são secundários. Há que concentrar as forças na montagem da equipe e no plano de trabalho focado nas reais necessidades do setor. Em 2020, encerra-se o mandato de Jair Bolsonaro. Nesse ano, divulgar-se-ão os resultados das avaliações da aprendizagem. O ministro, com larga experiência no setor privado, sabe trabalhar com metas. Elas são bem-vindas no MEC.

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