As grandes frustrações

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE
jslzdelgado@gmail.com

Publicado em: 08/04/2019 03:00 Atualizado em: 08/04/2019 09:09

Quando se completa, agora, o aniversário da prisão de Lula, deve-se admirar a maneira como a sociedade brasileira considerou essa prisão, ao longo de todos esses doze meses. Simplesmente não houve nenhuma revolta, nenhum clamor (exceto de insignificantes grupos: os que até ficavam defronte da prisão para gritar “bom dia, Lula!”). Nada da indignação generalizada com que o PT sonhava. Nenhum terremoto social, nenhum abalo. Não houve a comoção nacional que o PT esperava, o protesto, a maciça contestação. E isso há de ter ferido fundo tanto o ex-presidente preso quanto o seu partido. Seria valioso se refletissem sobre esse silencio nacional, para entenderem a razão dele. Acontece, como eles próprios diziam num “slogan” contra uma rede de televisão, que “o povo não é bobo”. O povo, que há 15 anos se encantou com Lula, agora o sabe evidentissimamente envolvido numa máquina de corrupção jamais vista na história deste país, e, lamentando esse triste desfecho de uma luminosa carreira, não tem razão para se vincular a tanta desonestidade, tanta traição aos ideais antigos. Decepcionado, o povo se dissociou de Lula e o largou à própria sorte.

Inigualável frustração de Lula e do PT. Como outras houve, na nossa história – ocasiões em que certas lideranças esperavam do povo retumbante apoio e o povo tomou outra direção...

A mais notável terá sido a de Jânio Quadros. Renunciando à presidência na tentativa de retornar mais fortalecido, Jânio apostava no clamor do povo que exigiria sua volta. Deixou a capital e viajou para São Paulo e, da janela do avião, espantou-se, horrorizado: “cadê o povo?” Não havia, no aeroporto, a multidão com que ele contava, O eleitor, que tanto entusiasmo revelara pelo homem da vassoura dez meses antes, mas que não é bobo, compreendeu que não havia por que continuar apoiando um doido. É provável que só neste momento, frustrado com a ausência das massas  que esperava, Jânio se tenha dado conta da enormidade da besteira que acabara de fazer.

Outra frustração foi a da esquerda, com a queda de Jango. Esperavam reação, resistência, cerrada militância contra o “golpe”. E o que viram foi a vibrante aceitação da deposição de João Goulart, por parte da imensa maioria do povo brasileiro – e mais do que aceitação: entusiasmo com a nova ordem, apoio veemente, alegria, sensação de alívio, notável sentimento de esperança de reconstrução nacional. (Quem quiser qualificar aquela deposição de “golpe”, qualifique: afinal houve evidente ruptura da Constituição; mas foi “golpe” largamente apoiado pelo povo , “golpe” popular portanto – conforme reconhecem até vários dos líderes esquerdistas da época).

Divertida frustração, ainda, foi a de Collor que, contra todas aquelas denúncias de roubalheira,  imaginou continuar contando com apoio popular e achou de implorar, pela televisão, que os brasileiros fossem às ruas, vestindo verde e amarelo, em seu apoio. O que ele viu foram multidões nas ruas, mas de preto, em oposição a ele. Seu imprevidente clamor ajudou foi a derrubá-lo, porque mostrou claramente de que lado o povo estava.

Assim também agora. Esse magnífico silêncio de 12 meses, a tranquila aceitação da prisão de Lula, mostra que o povo vê nele apenas um meliante e já não se ilude com suas fanfarronices. Mais uma notável frustração política. O povo não é bobo.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.