Editorial Nada a comemorar

Publicado em: 08/04/2019 03:00 Atualizado em: 08/04/2019 09:13

Sarampo, dengue, febre amarela, zika, chicungunha. Diabetes, hipertensão, tuberculose, câncer, doenças cardíacas, respiratórias e mentais. Caos na saúde pública (das grandes cidades aos rincões do país) e altos preços praticados pelos planos de saúde. Hoje, Dia Mundial da Saúde, não há o que comemorar. Pelo menos no Brasil.

Nos três primeiros meses de 2019, foram registrados 230 mil casos de dengue, um crescimento de 264% se comparado ao mesmo período de 2018 (63 mil casos). Acre, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal lideram as estatísticas, com taxas de incidência superiores a 100 casos a cada 100 mil habitantes.

Assistimos também ao retorno do sarampo, doença grave e contagiosa, com a queda de 20% na cobertura vacinal, o que permitiu que o Brasil perdesse o certificado de eliminação do vírus, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), título que era motivo de orgulho para o país desde 2016. Mesmo com a promessa do governo federal de colocar em prática um plano para recuperar o título de país livre da doença, foram mais de 10,3 mil casos confirmados em 2018, registrados em 11 estados brasileiros, com destaque para Amazonas, Roraima e Pará. Em contrapartida, a onda antivacinação, disseminada pelas fake news e nas redes sociais, contribui para os baixos índices da cobertura vacinal, uma vez que dados de 2018 apontam que 49% dos municípios do país (2.751) não atingiram a meta com relação ao sarampo, que deveria ser igual ou superior a 95%.

Na esteira do sarampo, com base em 36 casos confirmados, dos quais oito mortes recentes (entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019), a Organização Mundial da Saúde (OMS) pede que o Brasil reforce as medidas de prevenção contra a febre amarela, especialmente até maio, considerado o período sazonal para o aparecimento ou aumento dos casos da doença.

Além de patologias viróticas, altamente contagiosas, o Brasil lida com questões primárias, como a superlotação das unidades de saúde públicas, a desatualização da tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), a falta de profissionais nos postos e de medicamentos e a influência de fatores comportamentais, como o aumento da obesidade e o envelhecimento da população.

O orçamento da Saúde para 2019 também ficou aquém das necessidades diante do caos em que a saúde se encontra no Brasil. Os R$ 129,8 bilhões orçados para a pasta são fruto de um reajuste total de apenas 1,3%, o que coloca em risco programas como o Farmácia Popular, ações de prevenção e tratamento da dengue e chicungunha e infecções sexualmente transmissíveis, assim como investimentos na saúde indígena.

A OMS traçou um plano estratégico para os próximos cinco anos, na tentativa de garantir que 1 bilhão de pessoas a mais sejam beneficiadas com acesso a saúde e estejam protegidas de situações emergenciais, além de desfrutar de melhores condições de vida. Entre as questões que demandarão atenção maior da OMS estão a poluição do ar e mudanças climáticas, doenças crônicas não transmissíveis, pandemia de influenza, cenários de fragilidade e vulnerabilidade (seca, fome, conflitos e migrações), resistência antimicrobiana, ebola, atenção primária, vacinação, dengue e HIV. É, definitivamente não é uma data para celebrações.

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