O Recife no tempo do ronca

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 02/04/2019 03:00 Atualizado em:

Não sei se o leitor conhece a locução acima, usada por minha mãe pra significar um passado muito antigo. Havia também a expressão “em priscas eras”, essa mais erudita, que eu nunca ouvi ninguém usar. Mas os termos servem para falar de um Recife só conhecido pelos livros, no período colonial, mais exatamente na época de Nassau e depois. Quando chega de Portugal, um foragido responsável por não sabemos de qual mal feito em terras do Reino, e se instala no então povoado à beira dos arrecifes. Chamava-se Lourenço de alguma coisa, trabalhador como todo súdito português da época, logo fez colossal fortuna, afastando-se dos mazombos (procurem a definição no dicionário) passou a conviver com a elite (?) local, participou de embates, desaparecendo depois sem deixar rastro confiável. A trajetória desse “reinol” verdadeira e simbólica, nos será contada no próximo sábado na biblioteca da APL, pelo professor George Cabral, doutor em História pela universidade de Salamanca. Logo após a palestra de George, José Luiz Mota Menezes, arquiteto, especialista em História da arte nos fará reviver as metamorfoses pelas quais passou nossa cidade, de simples povoado de pescadores entre o mar e o rio, à formação de uma vila e constituição de uma cidade. Essas duas palestras, ilustradas por documentos e desenhos de época, fazem parte do Curso Transfigurações da Memória. Iniciado no dia 23 com palestras de Lourival Holanda e desta que vos escreve, teve sua continuação sábado passado com Ana Maria César e Marcos Galindo, discorrendo sobre as controvérsias da memória (Ana comentou o caso do Padre Hosana, assassino do bispo de Garanhuns) e seu papel na reconstrução da história individual e das nações, a urgência de seu acesso pelas Ciências da Informação. Detalhe: ainda é possível se inscrever para o curso que se prolonga até 25 de maio, sempre aos sábados, sendo que se cobra para cada sessão avulsa o preço de 50 reais (maiores informações no fone da Apl 3268-2211). Mas o maior e mais belo acontecimento desta semana foi a festa na Academia, domingo passado, quando mais de 300 pessoas vieram ouvir extraordinário concerto de rock e dois pianos, recital Claude Bolling, executado por Thales Silveira, Ebel Perelli, Levi Gudes, Jussiara Albuquerque e Elyana Caldas. Um evento de altíssimo nível aplaudido de pé. Em seguida, por último, mas não menos importante, como dizem os ingleses, foi a simpática e alegre festa, que a presidente Margarida Cantarelli, comemorando aniversário, ofereceu aos parentes, alunos, colegas da Academia, autoridades do mundo jurídico, cultural e político, que vieram abraçar a aniversariante enquanto amigos e companheiros em trabalhos de outrora, como o ex-governador Roberto Magalhães, Creuza Aragão, Martha Freire, Leda Alves e Germana Siqueira. Teve muito abraço, mesas com vasinhos de flor, docinhos de fazer a gente esquecer regimes, pudim de coco, cachorro-quente, bobó de camarão, e um grande bolo feito por Maria Lectícia Cavalcanti, herança de nossas avós, da qual ela tem o segredo. Um bolo de se comer de joelhos, uma receita de priscas eras.

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