Editorial Hora de trabalhar

Publicado em: 30/03/2019 03:00 Atualizado em: 31/03/2019 17:01

Depois de toda a turbulência provocada pela guerra travada entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, enfim, parece que todos tomaram juízo e a trégua prevaleceu para o bem o Brasil. Não é possível que dois dos principais líderes da nação se deem ao trabalho de baterem boca num momento tão crucial para o país. Basta olhar para os dados do desemprego divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para se ter a noção exata do tamanho do desafio que todos têm pela frente. Não é brincadeira.

A taxa de desocupação voltou a crescer: atingiu 12,4% no trimestre terminado em fevereiro. São 13,1 milhões de brasileiros que não têm de onde tirar o sustento. Se levarmos em conta que, na média, cada lar é formado por quatro pessoas, estamos falando de 52,4 milhões de cidadãos — quase um quarto da população — afetados por essa praga. Por isso, é urgente que o Brasil volte a crescer. E o caminho para isso, todos sabem, passa pela reforma da Previdência. A partir da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que está tramitando no Congresso, será possível indicar aos agentes econômicos que a maior das fragilidades do governo, as contas públicas, passará por um ajuste rigoroso.

Diante de um desafio monumental como esse, não há espaço para egos, ataques gratuitos, catilinárias nas redes sociais. Muito pelo contrário. O Brasil cobra compromisso, retidão e seriedade de seus líderes. Nenhum deles foi eleito para se embrenhar em um jogo de empurra ou de fanfarra que só prejudica a maioria. Mantido o atual cenário, certamente apenas os integrantes da corte e aqueles que orbitam em sua periferia estarão protegidos do desastre da irresponsabilidade política. Não é esse o recado que foi dado pelas urnas nas últimas eleições. Espera-se que a tal nova era saia do discurso para a prática.

Pelas declarações dadas pelas autoridades nos últimos dois dias, há motivos — ainda que mínimos — para se ter um pouco de esperança. A viagem que o presidente da República fará a partir de hoje para Israel poderá ajudá-lo a refletir, com o devido distanciamento, sobres atitudes que deixaram o Brasil em sobressalto. Temeu-se seriamente pela governabilidade do país. Não se governa acreditando que o apoio de um grupo de fanáticos nas redes sociais é suficiente. Também não se comanda o Parlamento agindo por impulso. Sobriedade e diálogo são as palavras-chave.

O momento requer união. Os brasileiros precisam voltar a ter esperança, não ilusão, de um país melhor. Isso só será possível se todos aqueles que detêm o poder de decisão cumprirem à risca a missão que lhes foi dada pelo voto. O Brasil, sim, é maior do que todos. Mas para que seja uma nação mais justa, com oportunidades sem distinção de raça, cor, ideologia ou opção sexual, é necessário grandeza de espírito e perseverança. Até agora, infelizmente, ainda há muitas dúvidas se realmente as excelências estão dispostas a darem suas contas de sacrifício.

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