A lógica maluca de Jesus

Plutarco Almeida
Jornalista, sacerdote Jesuíta

Publicado em: 25/03/2019 03:00 Atualizado em: 25/03/2019 08:37

Lucas, no capítulo seis do seu Evangelho, traz uma palavra de Jesus que pode parecer um tanto quanto escandalosa aos nossos olhos hoje tão concentrados em si mesmos. O que o Nazareno diz é algo impraticável numa sociedade cada dia mais egocêntrica e numa cultura guiada pela busca do prazer a qualquer custo. A proposta é inviável sob todos os aspectos. Pelo menos essa é a impressão que se tem diante do texto. Além de dizer que devemos amar os nossos inimigos, ele afirma que se julgarmos as pessoas e, pior ainda, se as condenarmos, seremos igualmente julgados e condenados na mesma medida. Aqui se trata de uma outra lógica, uma lógica absolutamente estranha ao nosso modo “pós-moderno” de viver. De fato, a argumentação de Jesus é revolucionária porque desconstrói todas as perspectivas a partir das quais estamos acostumados a enxergar o mundo, os acontecimentos e, sobretudo, as pessoas.

E que perspectivas são essas, afinal? São as perspectivas do preconceito, da intolerância, do julgamento arbitrário, da condenação que leva até mesmo ao linchamento moral do “inimigo”. Basta uma simples discordância de cunho político-ideológico ou religioso para que alguém se torne nosso “inimigo número um”. Coloco entre aspas porque, na verdade, não se trata de uma inimizade motivada por fortes argumentos. Por qualquer bobagem rompemos amizades antigas, semeamos a discórdia dentro da família e nos entrincheiramos de arma em punho atirando para todos os lados. Acho que não estou exagerando. As redes sociais são hoje o palco principal, ou melhor, o tribunal onde falamos de tudo e de todos, não raras vezes para julgar e condenar quem tem a ousadia suprema de discordar das nossas abalizadas opiniões ou das nossas “verdades” definitivas. Assim funciona a nossa “democracia” do pensamento único!

Pode parecer maluquice, mas a lógica de Jesus Cristo é a única maneira de devolver a cada pessoa a sua própria essência. O que esta lógica propõe nada mais é do que radicalizar o que existe de melhor em nossa humanidade: o amor, o amor nu e cru, isto é, sem os adereços mercantilistas, o amor fora de moda, o amor difícil de encontrar (e de amar). A perspectiva do nosso tempo é o caminho do abismo. Ninguém pode chegar a um mínimo de equilíbrio psicológico e espiritual alimentando ódio em seu coração. Ninguém pode ser feliz verdadeiramente olhando o tempo todo para o seu próprio umbigo, convencendo-se e tentando convencer os outros de que ele/ela é o centro do mundo, o (a) definidor (a) de todas as coisas. Esta é a ilusão que nos afasta cada vez mais de nós mesmos e provoca danos e dores ao nosso redor. Arrisquemos, então a amar! Façamos isso também nas redes sociais, por que não? Talvez essa lógica meio maluca de Jesus não seja assim tão doida não.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.