Semana movimentada

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/03/2019 03:00 Atualizado em: 25/03/2019 09:42

A semana foi bastante movimentada no Brasil. Houve desde prisão de ex-presidente até desmoralização do governo federal, com a proposta pífia de reforma da Previdência dos militares. Passando por uma chamada de atenção pública e humilhante do ministro Sérgio Moro pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Também teve destaque a postura dos mandatários brasileiros diante dos Estados Unidos, mesmo a viagem tendo sido de fato meio inócua quanto a resultados concretos. A conversa da OCDE será pura enrolação americana e atualmente os EUA, com um presidente maluco e com péssima reputação internacional, terão pouca influência na decisão desse grupo de países. A semana foi tão agitada que até mesmo as estripulias dos três patetas, os filhos do presidente, ficariam relegadas a segundo plano, se não fosse a agressividade que é peculiar ao Carlinhos. O Flavinho e o Eduardinho também tentaram se sobressair, mas não se deu muita atenção às besteiras deles.

Na reforma da Previdência dos militares deu-se uma mensagem clara: como vocês são legais e nosso presidente gosta muito de vocês, vamos dar o dinheiro para vocês contribuírem mais com a Previdência. O tempo a mais de trabalho que vocês terão, será compensado com prêmios ao se aposentarem e maiores salários ao longo da vida. No dia da apresentação da proposta, o incômodo com a humilhação e a incoerência foi claramente estampado no rosto do ministro Paulo Guedes. Obviamente, até o Congresso Nacional reagiu ao desrespeito com que o governo resolveu tratar a sociedade. Essa postura complicou ainda mais a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência e derrubou a bolsa desde quarta-feira. Achando o problema pequeno, o Carlinhos de forma irresponsável, ainda resolveu querer tripudiar do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Ao iniciar a semana esperava-se mais vexames de um presidente despreparado nos EUA, de forma que mesmo sem voltar com nada de relevante que justificasse a viagem, ainda assim a imagem do resultado alcançado foi favorável. Não fomos submetidos ao nível de humilhação e chacota que esperávamos. Por isso, a pirotecnia armada na comunicação do governo federal ainda obteve simpatia dos cidadãos brasileiros. O fim da necessidade de vistos para turistas americanos e a utilização da Base de Alcântara pelos EUA são positivos para o Brasil. A promessa de mudança de nossa posição na OMC faz pouca diferença e o apoio americano à entrada na OCDE deverá ter pouco impacto na decisão, até mesmo porque Trump não deverá ser mais presidente em momento de decisão efetiva. Essa entrada seria positiva porque a participação nessa organização limita os governos a fazerem besteiras. Por exemplo, não teríamos embarcado em algumas das aventuras macroeconômicas irresponsáveis da Senhora Dilma Rousseff, caso já fôssemos membros da OCDE. No todo, não houve nada de relevante na visita, mas também não passamos por muita vergonha, como seria de se esperar.

Peço desculpas pelo tom brincalhão do texto de hoje. Mas ele reflete a realidade do governo federal: está perdendo o respeito. Caiu a aprovação do governo junto à população. Reduziu-se a probabilidade de sucesso da reforma da Previdência. Caíram as previsões de crescimento do PIB para esse ano. Aumentou o risco de “Sarneyzação” antecipada do atual governo. Enfim, de um governo que se esperava tão pouco, que era basicamente uma reforma da Previdência de verdade, uma reforma tributária mínima e uma nova reforma trabalhista para elevar o emprego, parece que vai se conseguir muito pouco. Corre-se o risco de a introdução do criacionismo nas escolas e uma tímida comemoração do Golpe de 1964 terminarem sendo as realizações desse governo. Pobre Brasil.

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