Editorial A Lava-Jato é para todos

Publicado em: 22/03/2019 03:00 Atualizado em: 22/03/2019 16:00

A prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), na manhã de ontem, mostra que, ao completar cinco anos de atuação, a Operação Lava-Jato continua desempenhando, a contento, o papel de desvendar e punir os responsáveis pela corrupção instalada no país. Foram cinco anos colhendo provas robustas contra os corruptos e corruptores que vêm atuando impunemente, há muito tempo, nas mais variadas esferas de poder da nação. Ao chegar à condenação e prisão de outro ex-presidente da República, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, e, agora, a detenção de Temer, a Lava-Jato dá cabal demonstração de que a lei, no Brasil de hoje, é para todos, sem distinções partidárias e/ou ideológicas.

As investigações da força-tarefa, composta por juízes, procuradores e policiais federais, são republicanas e têm o unânime apoio da sociedade brasileira. A operação não tem como objetivo perseguir ou proteger grupos e partidos políticos, mas sim promover o combate sistemático à corrupção, verdadeira praga que corrói os alicerces do Estado democrático de direito. E a prova cabal de que a Operação Lava-Jato age com foco no combate a malfeitos, perpetrados contra a nação, está na prisão de dois ex-presidentes da República em menos de um ano - o presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT) encontra-se na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde abril do ano passado, cumprindo pena de 12 anos e um mês.

A decretação da prisão preventiva de Temer pelo juiz federal Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, deve servir de lição aos que ainda acreditam que podem ficar impunes com a promoção de atos de corrupção, mal maior que precisa ser combatido, implacavelmente, no país. A detenção de Temer deu-se dentro da Operação Radioatividade, desdobramento da Lava-Jato que investiga desvios de recursos públicos em obras da Usina de Angra 3, no Rio de Janeiro. A ação mostra que a Lava-Jato caminha firmemente com os próprios pés, mesmo com a saída do hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e as tentativas de esvaziamento da atuação da força-tarefa, como a transferência para a Justiça Eleitoral dos casos de corrupção associados a caixa 2 de campanha, antes a cargo da Justiça comum.

O resultado do trabalho da Lava-Jato impressiona, desde que uma simples investigação envolvendo doleiros do Paraná em um posto de gasolina, em Brasília, desembocou na maior operação de combate à corrupção da história do país. Durante cinco anos, somente no Paraná, sede da operação, ocorreram 60 fases, com o cumprimento de 1.196 mandados de busca e apreensão, 227 de condução coercitiva e 310 de prisão temporária e preventiva expedidos pela Justiça paranaense. Também foram oferecidas 91 acusações criminais contra 426 pessoas, com 242 condenações de 155 réus. A soma das penas chega a 2.242 anos.

Mesmo diante de números tão significativos, os integrantes do Ministério Público não podem e não devem transformar em palanque a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção no Brasil. Os holofotes não devem ofuscar trabalho tão profícuo, essencial para que o país se livre do enorme mal representado pela corrupção, o que é desejo de todos os brasileiros de bem.

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